Gazeta Entrevista

4 anos de crime em terminal: um sonho, o assassinato e a revelação no DML

Sueli Tavares chegou a conversar com o filho, na véspera do crime, sobre a sua angústia. No Gazeta Entrevista, novo quadro do Gazeta Online, a mãe revela detalhes sobre os dias que antecederam a perda e o que ouviu no DML ao liberar o corpo do jovem. A frase mudou a sua vida. Ela também fala do assassino, que está solto

Laila Magesk

Publicado em 31/07/2019 às 09h27

Pela primeira vez, quatro anos depois de perder o filho, Sueli entra na sala onde ele estudou. A emoção transparece nos olhos, na respiração e no abraço apertado que dá na professora. A sensação, segundo a mãe, é de que, a qualquer momento, reencontraria o filho.

A Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) foi o local escolhido pela fisioterapeuta Sueli Tavares, 52 anos, para a conversa do quadro Gazeta Entrevista. Ela é mãe do universitário Saulo Ferreira Tavares, de 24 anos, assassinado a facadas dentro do Terminal de Vila Velha, em 04 de fevereiro de 2015. 

As cenas do crime brutal, que também mostravam o desespero dos passageiros da linha 508 (Terminal de Laranjeiras x Itaparica), foram muito divulgadas na ocasião. As imagens se espalharam tão rápido que Sueli soube da morte de Saulo por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp.

Além do universitário, Jhony Lima Fernandes, de 19 anos, foi morto por José Carlos Rodrigues. Depois de ficar internado em um hospital psiquiátrico, o assassino dos jovens está solto. A Polícia Civil concluiu que o comerciante sofreu um surto psicótico.

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Na conversa, a mãe relembra os dias que antecederam a morte do filho. Ela acredita que Deus a preparou por meio de um sonho (veja no vídeo acima) que teve de domingo para segunda. Sueli narra os momentos de angústia e a conversa que teve com Saulo sobre o sonho na terça-feira, véspera do crime.

VOZ DE DEUS

Outro ponto forte da entrevista é o relato da mãe sobre a experiência sobrenatural que teve no Departamento Médico Legal ao reconhecer o corpo do jovem. "Eu ouvi a voz de Deus", afirma. De tão real, relata Sueli na entrevista, chegou a perguntar a pessoa ao lado se também tinha ouvido.

Sueli Tavares, mãe de Saulo Ferreira Tavares, esteve no IML para liberar o corpo do filho em 2015
Sueli Tavares, mãe de Saulo Ferreira Tavares, esteve no IML para liberar o corpo do filho em 2015 Foto: Marcos Fernandez

MUDANÇA

Com a perda, Sueli e o marido, que é pastor, fizeram uma mudança brusca de vida: viraram missionários. O casal vendeu o apartamento onde morava em Jardim Camburi e se mudaram para Parauapebas, no Pará, a aproximadamente 2.700 quilômetros de distância de Vitória. Por lá, ficaram três anos como missionários, dando amor e ajudando no que fosse preciso pessoas que viveram dores como a deles. Agora já estão de malas prontas para Portugal, onde vão continuar como missionários. Eles embarcam neste mês. Por aqui, deixam as duas filhas: uma vai ser formar em Arquitetura e, a outra, já é casada e tem uma filha, o xodó dos avós. 

PERFIL DAS VÍTIMAS

Saulo

Na ocasião do crime, apesar de estarem no mesmo ônibus, as famílias dos jovens disseram que eles não se conheciam. Saulo tinha 24 anos, era universitário, ator e músico. Ele cursava o sétimo período de Artes Visuais na Ufes e trabalhava na Galeria de Artes da universidade. O jovem também era flautista e se formou na Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames). Ele desenvolvia um projeto de como ensinar a arte às crianças. De família evangélica, ele participava do Ministério de Dança da Igreja em Vitória, onde frequentava. Saulo morava em Jardim Camburi, Vitória, com a família. Tinha duas irmãs.

Jhony

Jhony tinha 19 anos e cursava o segundo ano do ensino médio. Ele trabalhava como vendedor em uma loja de um shopping de Vila Velha. Foi adotado aos 16 anos e era o mais novo de seis irmãos, sendo quatro deles também adotivos. O rapaz morava com uma tia em Vista da Serra, Serra, mas costumava passar os fins de semana com os pais e irmãos. Jhony tinha o sonho de fazer um curso técnico e se formar em Pedagogia. 

Fonte: arquivo A Gazeta

O ASSASSINO

Após laudo psiquiátrico, o autor dos crimes foi absolvido sumariamente em 20 de abril de 2017, mas a juíza determinou que ele ficasse internado. Em uma nova avaliação, segundo informações do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, em 24 de setembro de 2018, o paciente foi desinternado e entregue para ser cuidado pela família.

Na decisão em que foi determinada a desinternação do paciente, também houve determinação para que ele fosse inserido em tratamento ambulatorial na unidade de saúde mental mais próxima de sua residência, devendo, após sua avaliação por especialistas, ser traçado programa de atendimento e apoio aos familiares.

José Carlos Rodrigues foi agredido por populares após cometer os crimes e ficou internado em um hospital
José Carlos Rodrigues foi agredido por populares após cometer os crimes e ficou internado em um hospital Foto: Reprodução/TV Gazeta

Além disso, ficou determinado que as técnicas do município fizessem o acompanhamento da inclusão do paciente nas unidades de tratamento ambulatorial, inclusive CRAS e CAPS, por pelo menos um ano, informando ao Juízo competente, mensalmente, sobre as condições do paciente.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), José Carlos Rodrigues deu entrada em 17 de abril de 2015. Em 2016, foi mantido no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) e em 24 de setembro de 2018 recebeu alvará.

Na época dos assassinatos, a ex-esposa de José Carlos prestou depoimento e revelou que o comerciante passava por problemas psiquiátricos há quase um ano, desde que sofreu um assalto.

O comerciante teria desenvolvido um trauma depois de ter uma arma apontada para a cabeça por um assaltante que invadiu o restaurante dele, em Vila Velha, e roubou uma bicicleta.