Entrevista

Jackeline: "Vamos reabrir as turmas escolares fechadas por Hartung"

Candidata do PT ao governo do Estado já fez parte do governo do emedebista

Bernado Coutinho

A candidata ao governo do Estado pelo PT, Jackeline Rocha, foi a primeira a ser entrevistada, nesta segunda-feira (27), na série de sabatinas realizadas pela Rádio CBN Vitória e pelo jornal A GAZETA com os que disputam o Executivo estadual. Jackeline, que aos 35 anos é a mais jovem entre os candidatos, disse que terá como uma de suas principais bandeiras o combate ao racismo, buscando levar mais oportunidades às populações periféricas.

Mesmo tendo feito parte da gestão do governador Paulo Hartung (MDB), onde atuou na Gerência de Economia Solidária, ela não poupou críticas ao governo e se comprometeu a reabrir turmas escolares que foram fechadas pelo emedebista. 

A petista também prometeu dar maior transparência à gestão e reavaliar as isenções fiscais cedidas pelo governo estadual às grandes empresas. Ela ainda afirmou que, mesmo entrando na eleição em uma chapa puro-sangue (o partido não coligou com outras legendas), o PT não está isolado e vai buscar uma "candidatura mais que triplex", elegendo não só como presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), como uma boa bancada na Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e uma vaga no Senado, além de elege-la para comandar o Palácio Anchieta.

Por que ser candidata ao governo do Estado?

Ser a candidata mais jovem (ela completou 35 anos no último domingo) traz uma responsabilidade muito grande, porque queremos ser a voz da juventude, das mulheres e da negritude. Nós representamos este momento de transição de gerações. O governo do Espírito Santo precisa dessa renovação, precisa de trazer novas ideias e trazer o povo para discutir de fato quais são suas reais prioridades.

Sua candidatura não foi amplamente divulgada. Ela foi definida no último dia das convenções, em uma reunião fechada. Afinal, sua prioridade é chegar ao governo do Estado ou está apenas cumprindo uma missão partidária de formar uma chapa para eleger deputados e dar suporte ao ex-presidente Lula?

A missão partidária é chegar no governo do Estado. O Partido dos Trabalhadores tem um projeto que transformou o Brasil. Chegamos à Presidência da República em 2003 por meio de uma política de alianças que também permitiu que pudessem fazer transformações profundas, implementando políticas públicas de distribuição de renda. Quando ressalto a presença da juventude numa gestão é quando a gente consegue aumentar o número de institutos federais no Espírito Santo, que foi um programa do Partido dos Trabalhadores. Nossa candidatura aqui foi uma candidatura que eu chamo mais que um triplex, queremos eleger Lula nosso presidente, eleger o nosso governo, eleger uma boa bancada de federal, uma boa bancada de estadual e eleger um mandato de Senado. 

Nós não fomos isolados, ao contrário. A chapa do Partido dos Trabalhadores, a nível federal, tem dois ex-prefeitos. Os outros partidos não quiseram coligar com o partido dos trabalhadores por ver a possibilidade de quando se aliar, numa coligação que tem o PT, que tem lideranças de grande expressão, como Helder Salomão, como João Coser, como Padre Honório, Nunes, Iriny, Casteglione, quando eles viram que os nomes na proporcional eram nomes de peso, de capilaridade e que poderiam aumentar a representatividade do PT na Assembleia e na Câmara, houve a tentativa de isolar o PT, mas o PT tem sua militância e tem o projeto de eleger Lula e o nosso governo.

Com tantos nomes conhecidos, por que escolher um nome que para o eleitorado ainda é desconhecido?

Não vivemos de contradição. Nós temos, por exemplo, 20% das vagas das direções destinadas para a juventude. Temos as cotas para vagas raciais e defendemos um mínimo de paridade para as direções executivas.

Mas é uma dificuldade que já vem de outras eleições. Na última eleição o PT veio coligado só com um partido e agora está em voo solo...

Não seria um voo solo. Quando você tem um partido com densidade eleitoral, com capilaridade e com diálogo militante, consegue superar o momento em que a gente está vivendo, em uma política de retrocesso, em que o principal objetivo é apagar tudo o que o PT já fez para a sociedade. Somos um partido que se renova a cada eleição. Não vivemos só de eleição, temos uma base social de movimentos.

Chegar ao governo é uma missão duríssima. A senhora vinha se preparando nos últimos meses e se sente preparada?

Me sinto preparadíssima. O momento que tá sendo oportunizado faz com que eu não precise esperar 10 anos para ser candidata a nada. Quando a gente vê que a política está indo para um outro lado cheio de discursos de ódio, em vez de defender a população, me sinto na obrigação de discutir os problemas do Espírito Santo.

A senhora trabalhou para o governo do MDB, de Paulo Hartung, apesar de o partido ter apoiado o impeachment da então presidente Dilma (PT) e foi gerente estadual de economia solidária até o ano passado. Não é contraditório?

No momento em que o desmonte do Temer estava acontecendo, existia nacionalmente a Secretaria Nacional de Economia Solidária capitaneada pelo Paul Singer, do PT. Então eu não poderia em momento nenhum me furtar de implementar políticas públicas sociais, que a nível nacional têm a ver com a nossa estrutura, com a nossa questão ideológica, inclusive, que é na defesa dos empreendimentos econômicos solidários. E aí a gente entra com a associação de catadores, banco comunitário, centro de agricultura familiar, onde conseguimos inclusive implementar um centro de distribuição em Jardim América, utilizando uma emenda que estava perdida. Eu entrei para fazer uma política daquilo que eu acredito, que eu continue dialogando com a mesma base política. Não existe contradição. Quando você está ali para enfatizar e fazer, na verdade, uma política pública mais inclusiva e mais justa.

A senhora não conseguiu a implementar aquilo que se esperava?

Dentro do que foi colocado, não tem como implementar. Eu não estava em uma secretaria, estava em uma gerência de economia solidária. Além disso, a nível nacional, o Temer acabou com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, assim como acabou com a Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres e com a Secretaria de Igualdade Racial e como desmontou o próprio Ministério do Trabalho.

A população jovem, e principalmente negra, é maior vítima da violência no Espírito Santo. Como a senhora pretende resolver isso? Que tipo de políticas públicas a senhora propõe para a diminuir esses índices e combater a violência?

A violência, e toda essa exposição da juventude negra, tem como estrutura o racismo. Isso não se reproduz, por exemplo, só no cenário da violência. Acontece todas as vezes que um jovem negro, por exemplo, procura emprego e a possibilidade de contratação diminui por ele ser negro. Nas áreas urbanas e periféricas, o maior índice de desemprego, da evasão escolar e de todas as questões de violações de direitos é voltada para a população negra. Então tem algo aí que é estrutural, que a gente considera como racismo do ponto de vista governamental. A juventude negra precisa ter oportunidade. Nós estamos com índices muito altos aqui no Espírito Santo de jovens que não trabalham, que não estudam e que estão sem uma perspectiva.

O que fazer objetivamente para mudar esse cenário?

Nossa proposta é criar um mutirão da cidadania. Uma ocupação dos espaços, utilizando os aparelhos públicos e criando comissões entre Ministério Público, Judiciário, Secretaria de Direitos Humanos e governo do Estado para poder fazer ocupações nos bairros periféricos e assim descobrir as potencialidades nessas regiões. Além disso, também é fundamental a gente discutir uma educação que não seja racista, que não seja sexista.

Queremos a real implementação da lei que prevê o ensino das religiões e da história da África nas escolas. Assim, o poder público se conscientiza do que é o racismo, para não acontecer o racismo institucional, que a gente vê em um posto de saúde, que acontece através de uma abordagem policial.

Pergunta de um ouvinte: por que muitos candidatos prometem coisas que não cumprem quando eleitos?

Depende da destinação dos orçamentos. A gente precisa readequar a ótica do orçamento do Estado e nós pretendemos fazer isso no nosso governo. Não tem condições termos um orçamento quase invisível para as políticas públicas para a mulher, para a juventude, para a igualdade social, enquanto existem outras áreas que estão sendo mais privilegiadas.

Ouvinte pergunta sobre as escolas que foram fechadas. A senhora pretende reabrir essas escolas?

Já não existe uma saída para uma educação inclusiva no Espírito Santo, até mesmo para geração de trabalho, emprego e renda, se nós não focarmos na reabertura das escolas e no fortalecimento das escolas agrícolas. Precisamos voltar com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). É preciso também proporcionar que a população que teve um alto índice de evasão escolar possa voltar para dentro da escola novamente.

Candidata, o que efetivamente a senhora propõe para combater a corrupção, caso eleita?

Temos a transparência como princípio. Precisa, na verdade, acabar com os privilégios e descentralizar a gestão da Transparência, porque nem todos os dados estão disponíveis para a população. Vale ressaltar, por exemplo, que em termos de combate à corrupção foi o Partido dos Trabalhadores quem mais deu qualidade para a Polícia Federal fazer as investigações. Nós tivemos operações aqui no Estado que, inclusive, atingiram governadores.

É preciso abrir para a população, por exemplo, as isenções fiscais. A gente precisa saber para onde vai o recurso que é isento das empresas beneficiadas. A população precisa saber o que está sendo feito por estas empresas para melhorar a vida deles e que justifique essas isenções. É preciso estudar o quanto está deixando de ser feito de políticas públicas com os recursos desses impostos que são renunciados para elas. Não tem como um pequeno empreendedor, um pequeno produtor rural e os pequenos empreendimentos serem penalizados com impostos e as grandes empresas serem isentas.

O PT apoiou o atual governo, teve cargos importantes e ocupou secretarias. Não teria sido mais coerente não participar deste governo?

Coerente é a gente estar aqui disputando um projeto de governo. Nós não estamos aqui para discutir governo Paulo Hartung. Não estou aqui para discutir governador Renato Casagrande. Eu tô aqui pra poder falar que nós temos uma proposta de governo para o Estado do Espírito Santo.

O PT é um dos mais investigados...

Também, como tem outros partidos que são super investigados. Inclusive, quem fez qualquer tipo de situação tá pagando por isso, enquanto tem outros que não se consegue provar nada, como é caso do ex-presidente Lula, que tá preso. Tá em 1º lugar nas pesquisas porque existe uma legitimização da população em relação a isso, que sabem que Lula é inocente.

 

 

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