Entrevista

Rose de Freitas diz que não pode prometer BRT

Senadora do Podemos foi a segunda candidata da série de entrevistas da TV Gazeta

TV GAZETA

Candidata ao governo do Estado, Rose de Freitas (Podemos) foi a segunda a participar, nesta terça-feira (11), da série de entrevistas realizadas pela TV Gazeta. Rose afirmou que não pode prometer a construção do BRT (corredores exclusivos para ônibus) e que a mobilidade urbana precisa ser discutida na região metropolitana.

Para a candidata, o Estado não tem recursos para viabilizar o BRT. “A questão da mobilidade tem que ser estudada colegiadamente com a região metropolitana. Se você fechar uma rua ali no Centro de Vitória, você vai ver o caos. Aí você fala, 'vou colocar um BRT passando pelo Centro de Vitória'. Como? Você tem que estudar isso de maneira metropolitana. Você tem na Serra espaços mais adequados, você vai para Cariacica encontra espaço, em Vila Velha também. Mas em Vitória tem um gargalo enorme.”

LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA:

A senhora tem uma experiência muito grande em Brasília, mais de 30 anos, muitas vezes como deputada federal, atualmente como senadora, e ainda tem 4 anos pela frente e muito atuante. É importante frisar que a senhora conseguiu trazer muitos recursos para cá como senadora e também como deputada. Por que, afinal, a senhora quer ser governadora e deixar esse cargo, inclusive, que ainda não foi completo, ainda faltam 4 anos pela frente?

Ao longo desses anos eu tenho trabalhado no objetivo claro que é trazer de volta os investimentos dos impostos que nós pagamos ao governo federal que é um concentrador de receitas, 66% de tudo que arrecada no Brasil fica em Brasília. É verdade que nós trouxemos muitos recursos, mas eu também, em contrapartida, durante esses anos, aprovando, trazendo recursos que não são de emendas, são investimentos que deveriam ser destinados ao nosso Estado, brigando para que acontecesse o aeroporto, melhorasse o porto, nós tivéssemos a primeira PPI, melhorar a estrada. Eu também reconheço que trabalhei muito ajudando a todos os governos, como de fato deveria fazer. Eu carreguei a pasta de todos os governadores. Indistintamente. Gostando ou não gostando, do mesmo partido ou não partido, tendo apoiado ou não.

Eu acho importante agora porque a política que eu enxergo, eu sou uma parlamentar municipalista, não tem como desenvolver um Estado de maneira nenhuma se você não descentralizar investimentos e distribuí-los, fazer com que a educação chegue a todas as cidades, a saúde atenda todos os munícipes, essa maneira de ver. É verdade, você tem toda razão, eu tenho mais quatro anos de Senado, mas atendi também a um conclame verdadeiro que as pessoas diziam: ‘olha, se você traz tanto recurso, e participa tanto do processo de investimento do Estado, por que não administrar?”. Sei que também não é uma coisa fácil. Você mostrou uma reportagem que o Espírito Santo é o maior em feminicídio e violência doméstica do Sudeste. Tem uma cultura machista arraigada aqui. Imagina o que é ser candidata em um Estado que tem esse tipo de cultura ainda.

A senhora tocou em um ponto que a gente ia tocar mais pra frente, mas como a senhora falou ... A gente não viu no seu programa de governo: tem alguma coisa que a senhora vai fazer para diminuir esse número, tirar o Espírito Santo desse ranking tão feio, tão violento, de feminicídio, de violência contra a mulher?

Eu fiz isso como senadora e como parlamentar. Os recursos que vieram para cá, inclusive no combate à violência, foram muitos. Cabe ao Estado, inclusive está no programa, a questão de ampliar as delegacias de combate à violência. É muito importante, mas eu quero dizer que, para combater a violência culturalmente como ela está impregnada na nossa sociedade, nós temos que colocar esse item dentro da educação. As escolas têm que tratar do tema. Têm que mostrar a igualdade entre as pessoas, os direitos, a cidadania, para que esses meninos aprendam desde criança a respeitar o próximo. Então, além de apoiar o programa que já existe e até o próprio botão do pânico, nós temos que disseminar essa cultura e agir dentro da própria segurança pública a favor da necessidade de amparar a mulher nas horas mais difíceis que é essa violência doméstica insidiosa.

Falando em segurança pública, o Estado vive um momento muito delicado, muito violento. A guerra do tráfico é muito grande, sobretudo na capital, muitos bairros sofrem com essa dominação. Eu queria antes de entrar nesse aspecto que a senhora me desse um posicionamento sobre o movimento grevista da PM do ano passado, a senhora foi a favor desse movimento?

Eu não sou a favor de uma greve como aquela que aconteceu que nós sabemos deixou danos irreparáveis no Estado do Espírito Santo. Lá fora não teve nada, nacionalmente, parecido com o que aconteceu aqui. Mas tem que dizer também que governos têm que dialogar, têm que conversar. Nós tivemos uma greve de caminhoneiros, resguardadas as proporções e as características, onde o governo federal faltou também o diálogo. Os prejuízos são também incontáveis sobre essa greve. Na questão da Polícia Militar, a polícia carece de uma estrutura melhor, uma estruturação, desde a questão do salário, do auxílio-transporte, do auxílio-alimentação, de salários melhores. Nós somos o pior salário do Brasil se paga no Estado.

Inclusive, no seu programa de governo a senhora sinaliza um diálogo para a reposição de perdas, então um reajuste para os militares no Espírito Santo?

Nós temos que fazer reajuste em várias áreas, não só na área militar. Tem a questão dos professores. A pergunta em seguida que eu acho que você vai me fazer, e é natural, "como é que esse governo com menos recursos que o governo anterior ...". Eu sou uma constituinte, eu sei que você não pode fazer ordenamento de despesa se você não tiver de onde tirar. Nós temos uma sonegação altíssima no Estado do Espírito Santo, R$ 4,5 bilhões ano. Nós temos que parar com isso.

Como?

Coibir a sonegação, fiscalizando, cobrando, não fazendo de conta que não vê, não dando importância à sonegação. Sonegação é um crime contra a economia pública, porque o que você deixa de pagar nós deixamos de executar na outra ponta com benefícios e serviços que interessam muito à população, como por exemplo saúde. Quando a gente fala de segurança pública, o primeiro item que a população mais reclama é de saúde pública. Eu tenho trazido de Brasília e trouxe agora recentemente esses equipamentos que a nossa rede pública nunca teve condições de possuir por causa da sonegação também. Mas eu trouxe tomógrafo, ressonância magnética, todos os aparelhos, bisturi elétrico, endoscopia. Tudo isso para equipar os hospitais públicos. Para melhorar o serviço. Portanto, quando eu falo em combater a sonegação, encaro isso com muita clareza que tem que melhorar os serviços essenciais para a população.

O número de homicídios é altíssimo, a violência é altíssima, a dominação do tráfico é muito grande também. O que tem que ser feito?

Eu fui relatora do Sistema Unificado de Segurança Pública, em que nós tiramos da União 1 bilhão e 200 milhões de reais para fazer um programa emergencial no Rio de Janeiro. Imagino que esses recursos poderiam estar sendo usados na educação e na saúde. A pergunta que muitas vezes não pode calar é a gestão pública faliu, porque deixamos de aplicar recursos na educação, deixamos de estruturar as cidades, deixamos de cuidar do cidadão e não vimos que o braço da marginalidade e do crime organizado, essas crianças que não iam para a escola elas eram puxadas para dentro do crime. Elas foram sequestradas. Sequestraram a infância, a adolescência e o Estado fingiu que não estava vendo.

As consequências estão aí. Isso é no Brasil inteiro. Nós temos que equipar a polícia, pagar salários mais adequados e outra coisa garantir segurança nas ruas agora requer mais um quesito e adequado e eficaz e competente e técnico e de qualidade, que é exatamente controlar a cidade, vigiando as cidades, impedindo que pelas nossas fronteiras entre a quantidade de bandidos que entrou na última vez que tivemos em estado de alerta.

A senhora acha que vai ser tão eficiente para gerir os recursos quanto a senhora é para trazer?

Sem dúvida.

Como?

Sem dúvida. Essa pergunta deveria ser feita a todos os candidatos lá atrás, quando se candidataram pela primeira vez. Como por exemplo o governador atual Paulo Hartung, que não tinha administrado nada, o Renato Casagrande que não tinha administrado nada, ao próprio José Ignácio que não tinha administrado nada. Perguntam sempre para mim, mulher, soa como um pouco de limite pré-estabelecido. Eu trouxe recursos e até fui considerada nacionalmente a que mais recursos trouxe para o seu Estado, porque conheço orçamento. Eu presidi, sem nenhum orçamento no Brasil, a maior comissão do Brasil. Retomei a página do orçamento, distribuindo verbas para todos os setores do Brasil. Desde as Forças Armadas, saúde, educação, ciência e tecnologia, todas as áreas.

Se eu sou competente para organizar um orçamento e fazê-lo funcionar no Brasil, que há quatro anos não tinha, como é que eu não vou ser competente para administrar o meu Estado? Vou sim. Primeiro, a questão fundamental é que você construa parcerias para trazer investimentos para o seu Estado. Não pode viver isolado. O Estado pode trazer recursos.Veja bem, nós temos uma cadeia Ifes aqui que são todos os recursos trazidos do governo federal, talvez a maior cadeia do país.

Quando nós estamos falando de Educação e Ifes, que é possível você pegar essa rede federal, interagir com ela, levando capacitação aos municípios todos. E mais, a escola em tempo integral nós temos um belo modelo de Escola Viva no Espírito Santo. Mas não tem um recurso para fazer em todos os lugares. Mas o governo federal tem recurso para as escolas de tempo integral. Nós precisamos trazer esse recurso para cá. Construir uma parceria do governo federal para administrar essas unidades do Estado é o primeiro passo para você fazer uma administração realmente democrática, dinâmica, porque o poder público acaba sendo muito lento, não é o caso desse governo, mas em outros governos nós tivemos lentidão da máquina pública. E perdemos muitos recursos. Nós estamos com a estrada do Mestre Álvaro que eu coloquei no PAC, o aeroporto eu coloquei no PAC, o nosso porto é PAC, a 262 é PAC, tudo que nós colocamos, e por que essas obras estão paradas? A do Mestre Álvaro, por exemplo, foi parada internamente no Estado, porque tem documentos da área ambiental que não foram liberados para construir estrada que tem R$ 368 milhões aprovados.

O dinheiro foi aprovado então?

Aprovado. Essa obra já foi licitada. O que está impedindo que ela funcione, essa pergunta foi feita ao Temer quando ele esteve aqui é exatamente os documentos da área ambiental, que nós não queremos que seja feito de qualquer maneira, mas que seja feito em tempo hábil para não se passar quatro, cinco anos, discutindo uma obra importante como essa.

A senhora passou por muitas áreas, entre elas a educação. Eu vou aqui dizer o que a senhora coloca na sua proposta de governo. A senhora diz em valorizar o professor e na sua proposta a senhora cita a palavra remuneração. A senhora pretende dar aumento salarial aos professores também?

Eu vou voltar ao que eu falei antes. Tudo aqui envolve a questão de você conseguir recuperar o Estado. Nós temos um Estado equilibrado, graças ao governo atual. Eu não poderia estar falando nada disso se a gente não tivesse um Estado economicamente estabilizado. Mas nós precisamos lembrar que há uma sonegação muito alta e que essa sonegação nos tira a capacidade de investimento.

Outra coisa, parceria com o governo federal. Eu trouxe 134 escolas ao longo desses anos para os municípios, por que não podemos trazer a escola de tempo integral? A educação, valorizar o professor, modernizar o serviço educacional, que vai desde a presença ao estímulo ao aluno permanecer na sala de aula, interagindo com outras atividades culturais e esportivas. Eu pretendo fazer da educação um modelo no Estado. A capacidade de ensinar melhor e ter educação melhor existe. Agora, não pode ser para um pequeno grupo de pessoas.

É bom lembrar, candidata, que a gente está bem no cenário nacional, mas a gente está abaixo da meta no Espírito Santo. No final do seu mandato, a senhora tem como dar para gente um parâmetro de como vai ser?

Eu pretendo que seja máxima por uma razão simples. Eu sou da frente nacional da educação. E parabenizo os índices que nós estamos, porque eram piores. Nós estamos trabalhando, mas podemos, aí entra uma coisa que eu gosto muito, que é parceria. Sem parceria, nós não trazemos esses investimentos todos para o Estado, onde quer que esteja. Tem muito município que não tinha água. Eu quero dizer que para ter educação a gente tem que ter parceria tanto na iniciativa privada como também com a rede Ifes que pode capacitar e muito a educação no Espírito Santo.

Eu vou insistir nessa questão, a senhora tem uma experiência muito grande em gerir recursos, a senhora acha que o problema é a sonegação fiscal para conseguir fazer esses repasses, que seja aumento para a política, para os professores, só com essa administração da sonegação fiscal?

Se você combate a sonegação, é como se fosse a administração da sua casa. Se você deixa de arrecadar o que precisa para manter a sua casa, você vai estar deficitário. Nós não temos deficiência nessa área, porque o governador é realmente uma pessoa capaz de administrar bem os recursos públicos. Mas eu torno a dizer, uma das coisas para você colocar dinheiro para dentro, para você otimizar, falar de salários melhores, é combater a sonegação. A outra é fazer parcerias para você trazer obras para o Estado com os recursos.

Nós pagamos os nossos impostos. Você acha que eu chego em Brasília e tiro o dinheiro como? Mostro os deveres que o Estado faz, que cumpre o seu dever de casa, tanto é que melhorou a educação, mas mostro também que o nosso Estado tem necessidades que deveriam ser supridas pelo governo federal. Eu não posso falar que vou construir um BRT, não tem recurso para isso. A prioridade absoluta é colocar a rede de saúde em pé, funcionando, não tem como você explicar que pessoas saiam de Pedro Canário para vir fazer hemodiálise três vezes em Vitória. Eu estou com as máquinas aprovadas para fazer um centro de hemodiálise no Norte. E no Sul, vamos fazer em Castelo, e por que não poderia ser feito no Norte? Porque o hospital que está lá não se preparou e não tem espaço.

A senhora citou o BRT, vamos falar um pouquinho de mobilidade urbana. A gente está acompanhando que o trânsito está cada vez mais complicado na região metropolitana a senhora tem uma solução, uma proposta para isso?

A questão da mobilidade tem que ser estudada colegiadamente com a região metropolitana. Se você fechar uma rua ali no Centro de Vitória, você vai ver o caos. Aí você fala, 'vou colocar um BRT passando pelo Centro de Vitória'. Como? Você tem que estudar isso de maneira metropolitana. Você tem na Serra espaços mais adequados, você vai para Cariacica encontra espaço, em Vila Velha também. Mas em Vitória tem um gargalo enorme. Eu pensando nisso outro dia, um tempo atrás, nós conseguimos aprovar uma hidrovia para tirar os caminhões que vão para o Porto de Vitória. Aprovamos a hidrovia, por incrível que pareça eu fiquei um ano para fazer uma batimetria. Para ver no Rio Santa Maria qual o gargalo que a tinha para a gente superar e colocar ali as barcaças, aquelas que podem levar materiais siderúrgicas para o porto. A começar, nós temos que estudar alternativas de transporte dessa carga pesada que vai para o porto. Aprovamos a hidrovia e por incrível que pareça o Estado não se interessou por ela.

Mas e na cidade? Ontem o caos foi aqui dentro.

Nós estamos falando de cidade, você acha que o caminhão vem de onde?

Evidentemente, mas o trânsito?

Caminhão vem de Vila Velha, caminhão vem de Cariacica, caminhão vem da Serra. Agora, sobre o acontecido ontem, ali faltou um planejamento adequado para uma emergência daquela natureza. Nós já até aprovamos recurso anteriormente, porque quando passa de um ano para o outro ele cai o recurso.

Até foi a bancada como um todo que aprovou o recurso para você proteger a ponte. Eu torno a repetir que essa questão de mobilidade tem que ser estudada como um todo para as regiões. O governo não tem dinheiro hoje para construir um BRT, mas pode estudar alternativas perfeitamente, começando pela hidrovia e outras vias de acesso, como o Mestre Álvaro, que tem R$ 368 milhões e está parado, por falta de um parecer do meio ambiente.

Considerações finais

Eu agradeço a oportunidade. É muito importante esse debate. Eu quero dizer que eu sei do desafio de governar o Espírito Santo, sei também que não se pode vender a ilusão de que teremos obras faraônicas, nós precisamos do Estado que não é mínimo, é essencial. É colocar de pé a rede pública de saúde, é isso que nós estamos fazendo e é desse momento que nós estamos falando. Chegou antes do programa o comunicado que nós temos mais de cinco equipamentos que temos que alocar e principalmente entender educação, saúde e segurança pública como prioridade no estado do Espírito Santo. Outra coisa, não ter preconceito de votar em mulher. A mulher tem a mesma capacidade de gerenciamento, a mesma competência que um homem. Portanto eu espero que nesta eleição, neste momento, tem 60% que não sabem em quem votar, que parem, analisem, discutem e votem, essa decisão é muito importante.

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