Entrevista

"Quero liderar pessoalmente o combate ao crime no ES", diz Casagrande

Em entrevista na manhã desta segunda, após ser eleito neste domingo, o candidato do PSB reiterou o foco na segurança, falou sobre as promessas de governo, PMs grevistas e a volta do BME e da Rotam

Ricardo Medeiros

Eleito governador do Espírito Santo com 55,49% dos votos válidos, Renato Casagrande (PSB) quer liderar pessoalmente o combate ao crime no Espírito Santo. Em entrevista à TV Gazeta nesta segunda-feira (8), o socialista assumiu esse compromisso com os moradores do Estado. "Eu vou comandar o enfrentamento ao crime, porque nesses últimos anos, de fato, nós perdemos esse comando e isso tem amedrontado a população capixaba".

Ainda sobre a segurança, Casagrande falou à equipe da Rádio CBN Vitória que pode rever punições aos policiais militares grevistas. O novo chefe do Executivo estadual também apresentou suas ideias sobre educação, retorno do aquaviário, obras - como a Avenida Leitão da Silva -, e reforma da previdência. Veja a entrevista.

Sobre a expressão "carregar lata d’água na cabeça morro acima"

De fato fiz essa manifestação para expressar a dificuldade que nós teremos nesses próximo anos. Não só eu como governador, mas também toda a população brasileira, porque essa polarização e essa baixa qualidade da política brasileira têm afetado a economia e nós vamos continuar em um ambiente muito tenso, muito nervoso. Isso exigirá uma aglutinação de forças políticas no Estado, para que a gente consiga dar passos adiante. Para mostrar a dificuldade que nós teremos nesses próximos anos governando esse Estado. A eleição acabou ontem. A partir de ontem eu fui governador eleito. A partir de janeiro, se Deus quiser, eu serei governador de todos os capixabas. Ficou para trás a disputa, agora sabendo das dificuldades, aglutinar forças políticas na sociedade, na Assembleia, no Congresso Nacional junto às instituições capixabas, para que a gente possa avançar no Espírito Santo.

Retomada da segurança pública

Eu quero liderar pessoalmente - isso não foi conversa de campanha - o combate ao crime no Estado. Eu fiz isso no período que eu governei o Estado, quando liderei o programa "Estado Presente", um programa de enfrentamento à criminalidade, que deu à segurança pública uma atenção, uma prioridade. Eu quero dar prioridade à área de segurança pública, como a outras áreas. Essa área da segurança pública é muito transversal. 

Nós não podemos colocar na responsabilidade do policial todo o enfrentamento ao crime, porque a segurança pública tem a ver com a nossa família, com os investimentos em saúde, educação, esporte, cultura, emprego. Então é uma tarefa do governo como um todo.

Não é tarefa do secretário de Segurança nem do comandante da Polícia Militar, nem do delegado-chefe da Polícia Civil. É uma tarefa do governo. Se é uma tarefa do governo, quem tem que liderar é o governador. 

Eu vou comandar o enfrentamento ao crime, porque nesses últimos anos, de fato, nós perdemos esse comando e isso tem amedrontado a população capixaba.

O atual governo diz que investimento recorde em segurança pública está sendo feito nesses últimos anos.

Mas quando tem interrupção dos investimentos é muito ruim.

O que interrompeu?

O governo, neste último ano, nesses últimos meses, começa a fazer investimentos em segurança pública. Nós deixamos no final de 2014 investimento forte em segurança e, como isso teve uma interrupção, causou um descontrole. Vamos olhar para frente, que é fundamental. Mas política com segurança pública você não pode ter interrupção dos investimentos e na atenção. O governador tem que fazer esse comando. Vamos retomar isso para que nós possamos, com o tempo, sei que vamos encontrar um efetivo de polícia militar, civil e bombeiros defasado. Agentes penitenciários e inspetores também com defasagem. Sei que nós vamos enfrentar dificuldades, que não se resolvem de um dia para o outro, nem de um ano para o outro. Mas nós vamos recomeçar e retomar uma atenção especial nessa área que a população hoje exige uma prioridade de governo.

A gente vem acompanhando uma redução no número de homicídios, exceção feita ao ano passado devido à greve da PM. Em compensação, assalto ao patrimônio não reduz. O senhor tem uma meta?

A meta ainda não. Não vou me comprometer com meta ainda. Quando eu trabalhei liderando o movimento no Estado, liderando o Estado Presente, nós tínhamos uma meta interna de redução de homicídio e de crime contra o patrimônio. Nós reduzimos homicídio e crime contra o patrimônio. A hora que eu formar a minha equipe, que vai atuar a partir de janeiro, aí sim nós vamos estabelecer metas internas para que a gente possa buscá-las. Eu comandarei, reunirei a minha equipe na área de enfrentamento ao crime, buscando essas metas.

O senhor já tem algum nome?

Não, ainda não. Apesar de as pesquisas terem me dado já há muito tempo a possibilidade de vitória no 1° turno, eu tive muita humildade e não aceitei em hipótese alguma discutir qualquer nome antes de chegar o resultado eleitoral. Agora que chegou o resultado, eu tenho três meses para poder compor a equipe, mas não tenho nenhum nome conversado em nenhuma área.

Apoio a Haddad ou Bolsonaro?

Vamos nos reunir essa semana em Brasília com a executiva nacional para fazer um debate. O partido PSB nacional terá uma posição com relação à eleição presidencial, que eu não posso antecipá-la, porque nós ainda não discutimos. Mas uma coisa eu posso dizer como governador eleito, sou secretário nacional do PSB e o PSB terá uma opinião, mas eu tenho que respeitar os meus eleitores aqui no Estado. Eu tive votos de gente que votou no Haddad e que votou no Bolsonaro. Eu precisaria me equilibrar e respeitar as pessoas que votaram em mim.

O partido terá a sua opinião, será pró-ativo e protagonista nesse embate. Eu não precisarei ser, até porque eu tenho que preservar não só os meus apoios, meus eleitores que estiveram comigo, mas preservar relações futuras que eu tenho que ter com o presidente da República que se elegerá.

Educação

Vamos ampliar o projeto Escola Viva com toda certeza. Escola de tempo integral nós temos uma legislação, um plano nacional e um plano estadual. O plano estadual, até 2025, nós temos que ter 50% das escolas em tempo integral. Então nós vamos precisar ampliar o programa, para que a gente possa alcançar essa meta até 2025 e buscar alcançar a meta do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que é uma meta de desenvolvimento e desempenho. Nós vamos atuar de forma integrada. O desafio é a gente colocar os jovens que estão na idade que deveriam estar em sala de aula e que não estão em sala de aula. Uma tarefa que não é fácil. A gente atrair e buscar esse jovem, para que ele possa estar dentro da sala de aula. Nacionalmente existe a meta dos Estados (no Ideb). Nós vamos buscar alcançar essas metas.

Aquaviário

O aquaviário tem que ser implementado em parceria com o setor privado. Um edital que vai buscar um parceiro, alguém que se interesse no investimento. Eu desejo que o funcionamento do aquaviário esteja integrado ao Sistema Transcol. Quem tiver no local e queira fazer um percurso no ônibus e depois um percurso na embarcação, integrado ao Sistema Transcol com a mesma tarifa. Isso terá um custo para o Estado que eu ainda não sei o tamanho desse custo.

Esse custo terá que ser de alguma maneira complementado pelo governo do Estado. Quanto custa isso? Eu ainda não sei. Mas esse é meu objetivo. Eu não vou dizer em que ano, se é no primeiro ano. Mas eu imediatamente já começarei a estudar a partir de janeiro o projeto e a definir o projeto da implantação do aquaviário.

Recursos financeiros

A parte de investimento eu posso dizer que seja mais fácil, porque o custeio é mais difícil. Nós vamos ter que ficar muito atentos com isso. Por isso, estou aqui evitando de assumir compromissos sem conhecer a realidade que eu vou assumir o governo. A atual gestão entregará em 31 de dezembro uma realidade, eu vou precisar saber que realidade é essa. A economia brasileira vamos verificar como fica após a eleição do novo presidente da República. A gente tem que ter muita cautela com aquilo que a gente se compromete em termos de custeio. Por isso, que estou aqui sendo cauteloso ao falar com a população capixaba. Agora, em relação a investimento, nós podemos ser mais audaciosos, porque o Estado tem espaço fiscal para buscar financiamento. Nós em 2014, hoje eu não sei exatamente a posição que está, mas o Estado está bem em termos de endividamento público. Nós entregamos em 2014 um estado com a 2° menor dívida pública do Brasil. Nós temos capacidade de buscar financiamento, gerenciar bem o recurso do Estado e buscarmos parceria com o setor privado. Por exemplo: quando eu fui governador, nós fizemos a PPP de saneamento na Serra. Investimento privado fazendo investimento em saneamento. A atual gestão fez uma PPP de saneamento em Vila Velha. Nós queremos continuar fazendo parceria com o setor privado, para que a gente continue investindo em saneamento básico, mantendo o comando administrativo da gestão da Cesan. Mas é bom que a gente possa buscar parceria com o setor privado. A parte de investimento nós podemos ser mais audaciosos e tem que ser mais cautelosos com gasto na despesa de pessoal e com gasto na despesa de custeio.

Avenida Leitão da Silva

Vamos finalizar a Leitão da Silva com toda certeza. É perfeitamente possível terminá-la no ano que vem. Acho que a atual gestão não consegue terminá-la, porque teve uma alteração de projeto e atrasou muito essa obra, mais de dois anos. Nós temos que terminá-la no ano de 2019, porque ali já causou problema para muitos comerciantes, moradores dos bairros no entorno da Leitão da Silva.

Portal do Príncipe e Contorno do Mestre Álvaro

Não só a Leitão da Silva, mas nós temos obras como o Portal do Príncipe, Contorno de Jacaraípe, Nova Almeida. O Contorno do Mestre Álvaro que não está mais com o comando do governo do Estado, porque foi devolvido para o governo federal, mas não há articulação com a bancada federal para que a gente possa começar a obra do Contorno do Mestre Álvaro. É impossível as pessoas terem que transitar do Brasil todo naquela avenida principal da Serra, é a BR 101, mas é uma grande avenida da Serra. São obras que foram iniciadas e outras que não foram iniciadas, mas que a gente quer complementar dentro de um plano de mobilidade metropolitana, que nós queremos de fato dar sequência e retomá-lo para atender melhor a população do Estado Espírito Santo. O Contorno do Mestre Álvaro é uma obra que nós contratamos quando estávamos no governo. Fizemos o primeiro Regime de Contratação Diferenciada (RBC). Agora o governo do Estado, por razões que não precisamos avaliar aqui, devolveu a obra para o governo federal. É uma obra que está sob a responsabilidade do Dnit. Então o que me cabe, me cabe a pressão na cobrança e na articulação junto com a bancada federal com quem eu vou trabalhar com muita intensidade. A bancada federal coordenará as ações do governo do Estado lá em Brasília. Eu vou trabalhar 100% com a bancada federal, a partir da hora que eu assumir o governo. Nós vamos trabalhar muito para que o governo federal inicie essa obra de importância para o Brasil, porque o Brasil passa naquela rodovia.

Ajuste fiscal e previdência 

Nós fizemos duas mexidas na previdência local que foram importantes para o futuro. Em 2004, foi feita uma segregação. O fundo financeiro, que era deficitário, foi separado do fundo previdenciário. Uma mudança importante. Hoje o fundo previdenciário é equilibrado e o fundo financeiro é a parte que o Estado já está investindo, gastando em despesa em torno de R$ 2 bilhões por ano. Em 2013, eu como governador, nós criamos a aposentadoria complementar. Quem quiser se aposentar acima do teto da previdência, tem que dar uma contribuição igual à contribuição do governo. Foram duas mexidas importantes, mas assim mesmo o fundo financeiro é uma grande despesa para o nosso Estado. A reforma da previdência é importante.

Nós apoiaremos uma reforma da previdência que não seja só para retirar direitos do trabalhador e de quem ganha pouco. Nós queremos estar em sintonia com o Congresso Nacional e com o novo presidente da República, para que haja uma reforma da previdência que tenha influência sob os estados.

Aquilo que o governo fizer lá em cima na coordenação do Congresso Nacional refletirá aqui no Estado do Espírito Santo. E o governo federal novo terá que avançar em alguma reforma da previdência e terá sim o meu apoio.

Governo anterior 

Eu fiz um governo 2011-2014 com muito resultado. Tanto é que a população na hora lá não me deu o direito da reeleição, mas hoje me concedeu o direito de voltar ao governo. Nós fizemos um governo com muito resultado na área de infraestrutura e na área social. Lógico que o momento que nós vamos governar é outro, é outro na economia, na política. A política hoje está muito mais nervosa do que estava. Nós vamos ter que ter muita cautela na condução do Estado. Ao mesmo tempo que a gente tem cautela, tem que ter muita audácia para buscar alternativas. E eu vou confiar muito nas pessoas, porque eu aprendi a conhecê-las. A melhor maneira de conhecer as pessoas é estando no governo e depois saindo do governo. A gente conhece efetivamente quem tem compromisso com o projeto e quem não tem. Acho que esse conhecimento das pessoas e das instituições me ajudará muito a governar o Estado do Espírito Santo nos próximos quatro anos.

Revisão de punição a PMs grevistas

Policiais que sempre tiveram uma carreira brilhante e que foram excluídos da Polícia, e se o processo estiver na área administrativa, se tiver ao meu alcance de ajudar a resolver essa injustiça, resolverei. Com relação às forças especializadas, o meu desejo é retomar o BME e Rotam porque foram forças muito treinadas. Vou conversar naturalmente com o secretário que vou escolher, com o comando da PM e isso será feito em conjunto com as pessoas que estarão à frente da Segurança Pública. 

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