Gabriel Tebaldi

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A morte de uma criança

"Quando morre uma criança a vida nos cobra ação"


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Foto: Amarildo

Quando morre uma criança, interrompe-se o ciclo da vida. Nada é tão antinatural ou inconsolável quanto pais que enterram filhos. Rompe-se o sentido da existência; quebra-se a lógica do tempo. No mês das crianças assistimos em choque a tragédias contra os mais frágeis de nós. Em apenas 20 dias, ao menos 13 crianças foram brutalmente assassinadas e 44 ficaram feridas em crimes de proporções nacionais.

Era 5 de outubro quando Damião Soares foi à escola em que trabalhava, jogou álcool em crianças da creche e, em seguida, ateou fogo em todas vivas. Nove crianças de 4 anos morreram. Num ato heroico, a professora Helley de Abreu doou a própria vida para salvar os alunos. Tragada pelas chamas, Helley teve cem por cento do corpo queimado.

No dia 12 de outubro, enquanto pequenos comemoravam o seu dia por todo o país, a Polícia Civil de São Paulo encontrou os corpos de Adrielli e Beatriz já em avançado estado de decomposição dentro de uma van. A desprezível existência de Marcelo e Everaldo levou ao sequestro das meninas de apenas 3 anos e a morte de ambas por asfixia. Já mortas, as duas ainda foram abusadas sexualmente.

No chocante dia 20, às 11h50, um adolescente de 14 anos abriu fogo contra os colegas em plena sala de aula. A prática de bullying, ainda pouco debatida e por tantos ridicularizada, estaria no cerne das razões do ato. João Vitor e João Pedro, de apenas 13 anos, morreram na hora com os disparos. Já o atirador, embora vivo, enfrenta a morte existencial; pouco lhe restará de tal tragédia.

Enquanto isso, 16 mil crianças com menos de cinco anos morrem todos os dias no mundo, segundo a Unicef. Nos últimos 25 anos foram 236 milhões de pequenas vidas perdidas, mais do que toda a população brasileira. E o pior: metade dessa tragédia é causada por desnutrição.

Quando morre uma criança a vida nos cobra ação. São urgentes a punição aos covardes, a proteção dos indefesos e uma mobilização internacional e intransigente em defesa das crianças. Outubro não nos deu motivos para comemorar. Mas a vida, tal como uma criança, sempre espera e acredita numa nova chance de sorrir.

 

 

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