Jace Theodoro

[email protected]

  • Últimas da coluna

Por que você escreve?

Não tenho a menor ideia. Talvez uma nebulosa convicção sobre o que é meter os pés pelas mãos ao desenhar um texto em forma de letras


*Jace Theodoro

Esta é a questão proposta pelo poeta Sérgio Blank a escritores que participam de bate-papo neste seu projeto. Tinha medo que ele me convidasse tamanho o peso da pergunta para a qual eu não tenho a menor ideia de resposta. Uma pergunta cretina. Calma nas tamancas, nobre leitor, porque este foi adjetivo usado pelo próprio poeta inquisidor: cretina! Acrescento a exclamação pra dar volume ao meu drama.

Pois Sérgio, o cretino mais doce sob os olhos da mãe terra, me convidou e eu terei de ocupar na próxima segunda-feira o Mercado São Sebastião, em Jucutuquara, para responder a esta e a outras questões sobre o processo da escrita. Kafkiano promete ser a conversa já que meu processo é mais embolado e indefinido que o movido contra o senhor K, personagem de Kafka.

E qual a motivação a me conduzir até o terreno minado das palavras? Se o meu nobre aí do outro lado não entendeu, explico. Eis o começo do exercício do embromation que apresentarei no encontro com os leitores. Não tenho a menor ideia. Talvez uma nebulosa convicção sobre o que é meter os pés pelas mãos ao desenhar um texto em forma de letras.

 

 

“Lutar com palavras é a luta mais vã/ entanto lutamos mal rompe a manhã”, obrigado pelo socorro, Drummond, meu amparo poético quando sucumbo à fúria das letrinhas. Escrevo por desatino, uma loucura fundante que me salva de estar vivo num mundo de semimortos. Escrevo porque é preciso uma espécie de engenheiro com endoidecida noção da ponte que vai dar no coração civil do leitor.

Houve um tempo recente quando me considerava um escrevinhador, um abestalhado tentando sentar em trono no reino das palavras, estas princesas malvadas. O mais perto que cheguei foi ocupar no palácio o papel de bobo da corte, mas, como sempre digo, prefiro ser o bobo a entregar a nudez do rei a ser o palhaço solidário. Como está de bom tamanho pra mim, não preciso recorrer ao SAC dos poetas para reclamar do posto.

E é como o bobalhão do reino que estarei frente a frente com o poeta Blank e – espero firmemente – com os fiéis leitores. O esquenta começou nesta crônica-embromation, desculpem o mau jeito. Rá!

*É jornalista e cronista

Ver comentários