Vitor Vogas (interino)

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Diálogo com Paulo Freire

Com a decisão do Tribunal de Justiça de cancelar o uso de celulares funcionais por magistrados e servidores, a Corte espera poupar R$ 100 mil/mês. Era esse o gasto médio com o serviço até 2014.


O pernambucano Paulo Freire (1921-1997) foi um dos pedagogos mais importantes do século XX. Suas ideias até hoje influenciam educadores no mundo inteiro e, principalmente, no país. O secretário de Estado da Educação, Haroldo Corrêa Rocha, é um dos que têm em alta conta o autor da “Pedagogia do Oprimido”. Por isso, há que se registrar o paradoxo que marca, na origem, o programa “Escola Viva”, o mais importante do governo Paulo Hartung na educação.

No papel, o programa parece conter muito do pensamento freireano, na medida em que propõe inovações no modelo pedagógico historicamente adotado nas instituições de ensino médio, ampliando o tempo de permanência do aluno na escola e conferindo-lhe maior gama de atividades extraclasse e maior autonomia para construir o conhecimento e buscar outras formas de aprendizagem.

Ao mesmo tempo, antes mesmo de nascer, o programa patina justamente porque o governo deixou de exercitar um dos pilares conceituais do pedagogo: o diálogo. Nas palavras do líder do governo na Assembleia, Gildevan Fernandes, o “Escola Viva”, mais do que inovação, será uma “revolução na educação deste Estado”. Ora, se a mudança é assim tão “revolucionária”, ainda que no futuro se prove positiva, como pôde o governo querer aprová-la a toque de caixa? Diante da justificada resistência inicial por parte de docentes e discentes, não houve escolha senão recuar, reconhecendo a necessidade daquilo que faltou no início: diálogo.

De fato, em sua vasta produção teórica, Freire sempre sublinhou a comunicação e o diálogo entre seus conceitos mais caros. Dedicou a vida a defender a “educação dialógica”, como a denominava, em oposição ao modelo tradicional. Sempre criticou a educação da “palavra oca, vazia”, da “decoreba”, dos “retalhos da realidade” desconectados do todo. Nessa concepção, por ele batizada de “bancária”, a educação é tratada e praticada como ato de depositar conteúdos, e os alunos, como meros depositários, a serem dócil e passivamente preenchidos, “em nome do saber”, por conteúdos estanques despejados pelos “mestres”.

Para ele, ao contrário, o aprendizado verdadeiro decorreria de um processo de busca ativa por parte dos educandos, em interação com os educadores; uma educação que valorize e estimule ao máximo a participação dos estudantes no ato de aprender (e de aprender a buscar o conhecimento, ou seja, “aprender a aprender”) – nas palavras de Freire, “uma educação estimulante do autêntico pensar”.

O pensador preconizava que a prática pedagógica libertadora requer uma relação dialógica permanente com os educandos, para que eles sejam incentivados a se expressar e a pensar criticamente sobre a própria realidade. É no diálogo crítico, ensina Freire, que se problematiza, se compreende e se pode transformar o mundo: “Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade”.

Segundo ele, a educação realmente transformadora só pode se forjar no diálogo entre os homens, o que só é possível pela comunicação: “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores”. Para Freire, é somente na comunicação que o homem se afirma como tal, pois sua consciência apenas se constitui pelo diálogo. Assim, num processo de educação emancipatória – como ele postulava –, o diálogo se eleva como exigência radical, pois: “Não há, realmente, pensamento isolado, na medida em que não há homem isolado. (...) É o ‘pensamos’ que estabelece o ‘penso’, e não o contrário”.

Eis aí uma ótima dica a quem governa.

 

Carros caros
Mesmo em tempo de vacas esqueléticas, a Câmara de Linhares celebrou novo contrato para locação de veículos. A um preço global de R$ 163.380,00 por ano, a Casa passará a locar sete veículos (incluindo um Toyota Corolla), até março de 2016. No entanto, pelo contrato vigente até então, a Câmara só locava três veículos, a um custo anual de R$ 48.950,00.

Carros caros 2
A assessoria da Casa informa que os veículos ficarão à disposição da Mesa Diretora, das comissões e dos servidores, em uso administrativo (o Corolla é para a Mesa!). A justificativa para o aumento seria a transferência da sede do Legislativo, do Centro para o bairro Colina. O novo prédio custou R$ 3,5 milhões. Faz-me rir, né? O orçamento da Câmara em 2015 é de R$ 17,8 milhões. O do município, R$ 571,9 milhões.

Nem pó...
A CPI do Pó Preto aprovou proposta para publicar, no site da Assembleia, todo o andamento dos trabalhos, detalhadamente. O problema é que o link até existe, mas ainda não é possível acessá-lo.

Para todas as minorias
Conforme o Regimento Interno da Assembleia, cabe à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos opinar sobre “direitos das minorias e setores discriminados, tais como os do índio, do menor, da mulher e do idoso”. Mas é pouco para o presidente da comissão, Nunes (PT), que apresentou projeto de resolução para acrescentar “crianças e adolescentes, juventude, negros, quilombolas, ciganos, pessoas com deficiência e população LGBT”. Ufa!

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