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Amunes: uma escala para 2018

Confira a coluna Praça Oito desta sexta-feira, 17 de março


Praça oito

A eleição do novo comando da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes) está sendo profundamente atravessada pela antecipação da eleição a governador do Estado em 2018. Os sinais dos dois lados são bem claros, e a situação hoje é a seguinte: a chapa liderada pelo prefeito de Viana, Gilson Daniel (PV), acusa a do prefeito de Linhares, Guerino Zanon (PMDB), de estar a serviço do Palácio Anchieta. Já a de Guerino insinua que a de Gilson está servindo a fins eleitorais de potenciais adversários do grupo político de Paulo Hartung (PMDB) em 2018, como Renato Casagrande (PSB) e Rose de Freitas (PMDB).

Até o dia 23, fim do prazo para homologação das chapas, ainda é tecnicamente possível que as duas se unifiquem. Essa hipótese, no entanto, é remota, pois para isso alguém teria que ceder, e todos estão irredutíveis. Os dois lados se dizem abertos a uma conciliação, desde que o outro lado renuncie à cabeça da chapa – que é o que de fato importa. As chances de consenso morrem aí.

O próprio Gilson afirma que, em 2015, também era candidato inicialmente, mas acabou renunciando em favor de Dalton Perim (PMDB), por um pedido direto do governador Paulo Hartung. Agora, não está disposto a recuar um milímetro.

Inamovível, o prefeito de Viana é mais independente do Palácio e tem histórico político mais próximo a Casagrande. Vice na chapa de Gilson, Audifax Barcelos (Rede) também situa-se hoje em um polo independente ao Palácio, embora transite bem entre Hartung e Casagrande. O prefeito da Serra acena até com lançamento de candidatura ao governo em 2018.

Em contrapartida, Guerino Zanon é um dos prefeitos mais vinculados a Hartung no Estado. Na Assembleia, era leal deputado da base do governador. Nos cinco meses que antecederam a campanha de 2016, foi secretário estadual de Esportes, apenas para reforçar ainda mais o carimbo de aliado palaciano. Seu vice na chapa, Juninho (PPS), apoiou Hartung em 2014 contra Casagrande e também tem o selo de fiel governista.

Em novembro do ano passado, logo após se reeleger prefeito, Gilson já assumia a pré-candidatura à presidência da Amunes e admitia ter o apoio de Rose de Freitas. A senadora tem evitado se pronunciar sobre o assunto, mas mantém uma relação política antiga com Gilson e realmente tem preferência pela eleição do verde. Casagrande idem. “Evidentemente, a chapa do Guerino tem muito mais a cara do governo. Isso sinaliza que Casagrande vai ter que tomar o outro lado”, atesta um dirigente socialista.

Um dos articuladores da chapa de Gilson vai além: está convicto de que a chapa de Guerino surgiu na reta final, construída a dedo pelas mãos de Hartung, do chefe de gabinete, Paulo Roberto (PMDB), e do chefe da Casa Civil, Zé Carlinhos (PSD). O último admite que o governo está “acompanhando com atenção” a disputa e diz ter advertido Gilson de que ele poderia estar caindo em “uma armadilha eleitoral”.

Para o já citado articulador do prefeito de Viana, o governo está assumindo um risco muito grande com esse movimento, pois, se Guerino ganhar ou perder, o mérito da vitória ou o ônus da derrota vai cair na conta do Palácio. “É um erro estratégico da Casa Civil se meter nisso. Todos vão sair perdendo.” Por outro lado, o mesmo aliado de Gilson admite que Rose já está pedindo votos para a chapa não governista e que a vitória dessa com certeza convém muito mais tanto para a senadora como para Renato Casagrande.

Tudo indica, então, que a polarização PH x Casagrande se reproduz na eleição da entidade dos prefeitos. Ganhar e controlar esse espaço de poder até 2019 será estratégico na eleição de 2018.

Candidato do governador

O presidente do Sebrae no Espírito Santo, José Eugênio Vieira, entrega: “Fico com o candidato do governador. Hoje, Guerino (Zanon) é, sim, esse candidato”.

Missão dada...

Eugênio confirma que, todas as noites, tem disparado telefonemas aos prefeitos com quem tem ligação mais forte, dizendo que hoje há interesse do governo em que a chapa de Guerino seja eleita. A missão, segundo ele, foi-lhe passada pelo próprio governador. “Mesmo estando fora do governo, tenho relação com ele há muitos anos. Ele me solicitou há alguns dias que eu fizesse tudo o que pudesse para ajudá-lo.” Eugênio inclusive participou da reunião de Hartung com o secretariado na última segunda-feira.

“2018? Com certeza!”

O chefe do Sebrae-ES não tem dúvida: “Com certeza absoluta, a eleição da Amunes passa pela de 2018, infelizmente. Estou buscando o consenso. Acho que a entidade não devia ser dividida”.

“Receio que sim”

Vice na chapa de Guerino, o prefeito de Cariacica, Juninho (PPS), opina: “Temo que isso (interferência de 2018 no processo) esteja mesmo acontecendo. Agora, levar essa interlocução para o lado eleitoral é precipitado, de qualquer parte que venha. Não posso garantir quem está fazendo isso. A única certeza que tenho é que o governo do Estado não está”.

Contaminação

Do chefe da Casa Civil, Zé Carlinhos: “Eu gostaria que o processo tivesse ficado mais a salvo da lógica política, dos embates políticos naturais que existem. O mais saudável para a Amunes, para os prefeitos e para o municipalismo teria sido que ela ficasse um pouco mais preservada dessa contaminação da disputa política estadual”.

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