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Chapa HH: solução ou "loucura"?

Confira a coluna Praça Oito deste sábado, 11 de novembro


Foto: Amarildo

A ideia de lançar Paulo Hartung (PMDB) candidato a vice-presidente em uma chapa encabeçada pelo apresentador de TV Luciano Huck faz parte de uma grande articulação nacional, envolvendo líderes políticos e empresariais. Foi o que sinalizou o próprio governador em entrevista à coluna Praça Oito, horas antes de embarcar para o Rio de Janeiro para conversar com Huck, na noite da última quinta-feira, em encontro mediado pelo economista Armínio Fraga, na residência do ex-presidente do Banco Central. Fraga, por sinal, tem pensamento econômico muito parecido com o de Hartung.

O objetivo dessa articulação, segundo o governador, é lançar uma proposta de centro-esquerda que faça frente aos candidatos de extrema direita e de extrema esquerda na corrida presidencial em 2018. O jantar realizado na residência de Armínio confirmaria a participação direta de Hartung nessa construção.

“Eu não descarto nada”, disse o governador à coluna, antes do jantar. “Posso participar da eleição estadual ou da eleição nacional, seja diretamente, como candidato a alguma coisa, seja indiretamente, envolvido numa grande articulação. Tenho participado de muita conversa, muita articulação, buscando construir uma proposta para o Brasil com atores políticos que possam encarnar isso.”

E qual é o plano, então? Hartung responde: “Tentar construir uma proposta de centro-esquerda, que expresse o pensamento liberal na economia mas que ao mesmo tempo também tenha uma grande preocupação com a inclusão social. Uma proposta que possa ser apresentada aos brasileiros, sinalizando um futuro melhor”, diz o governador. Além de Huck e Armínio, ele confirma que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), está envolvido diretamente nessas conversas.

A coluna perguntou a Hartung quem seria a “cara”, ou seja, o candidato a ser lançado para liderar esse movimento. “Ainda não tem cara. Talvez seja preciso testar mais de um nome”, respondeu ele, com uma ressalva: “O que tem cara no momento são os extremos”, alertou, em referência a Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PSC), respectivamente 1º e 2º colocados, hoje, nas pesquisas de intenção de voto.

Ainda sobre os “extremismos”, Hartung demonstra preocupação de que os brasileiros, em 2018, sigam o mesmo caminho tomado pelos norte-americanos ao elegerem Trump: por irritação e mau humor político, os eleitores podem ficar tentados a optar por uma “solução fácil”, da qual depois podem se arrepender: “As pessoas no Brasil estão irritadas, e com razão, mas esse mal-estar absoluto as empurra para a busca de soluções fáceis, bravateiras. Esse mau humor não produz coisas boas. Basta ver o que os norte-americanos fizeram no ano passado”.

A coluna apurou que, durante o jantar com Huck, o apresentador disse a Hartung que ainda não se decidiu, mas admitiu estar considerando a hipótese de lançar candidatura (tem convites do DEM, da Rede e do PPS). Huck consultou Hartung se ele toparia compor uma chapa com ele. Eles ficaram de manter novos encontros para troca de ideias. Segundo o governador, não é hora de fechar chapa, e decisões sobre candidatura devem ser tomadas na segunda quinzena de março.

“Foi uma boa conversa”, disse Hartung ontem sobre o jantar. Ele reforça que não reivindica posição alguma na chapa, mas que quer estar nesse movimento, o qual, frisa ele, precisa ser expandido. “Essa conversa precisa ter o tamanho do Brasil, precisa atrair mais gente. O país não aguenta mais quatro anos de aventura. Temos que agarrar uma agenda certa.”

Essa é a visão de Hartung. Fica, porém, uma dúvida: não seria Huck também uma aventura? PH tem criticado muito os candidatos “aventureiros”, outsiders, vindos de fora da política e que vendem “soluções fáceis”, apolíticas, para problemas cuja causa é política e cuja solução passa necessariamente por ela. Ora, a esta altura ninguém sabe o que Huck realmente pensa ou representa. Tudo que se sabe sobre ele é que é um rosto famoso, carismático, exitoso na sua área de atuação... que não é a política.

Nesse sentido, não haveria aí certa contradição por parte de PH? O que diferencia Huck de um Trump ou do que teria sido Silvio Santos em 1989? O homem do “Topa Tudo” correu da aventura eleitoral a tempo naquele ano. Agora, se embarcar com Huck nessa chapa, o homem que diz “topar tudo” não pode estar chancelando uma “loucura, loucura”?

Exemplo para Hartung

Paulo Hartung está empolgadíssimo com o exemplo do presidente francês, Emmanuel Macron. Está lendo e, em conversa com a coluna, recomendou vivamente o livro “Macron por Macron”, recém-chegado às livrarias brasileiras.

Derrotou extremos

Na França, Macron decidiu fugir dos velhos esquemas de classificação em droit (direita) e gauche (esquerda). Lançou o partido En marche!, com as suas iniciais, e assim conseguiu romper e derrotar a polarização que se desenhava na eleição presidencial, entre o socialista Benoît Hamon e a quase neonazista Marine Le Pen.

PH remete a Macron...

“Macron vê o que a globalização tem de bom e de ruim. Apoia as reformas liberais, mas tem uma visão social profunda, uma agenda ambiental muito forte e dá centralidade à educação”, analisa PH. “No caso dele, ajudou muito o fato de a França ter ao lado um ótimo exemplo (Angela Merkel, que tem ideias próximas e tornou-se aliada estratégica de Macron nas discussões multilaterais).”

...que remete a Liegey...

Quem fez a campanha de Macron foi o marqueteiro Guillaume Liegey, que também já trabalhou para Obama. Outra referência positiva para Hartung, Obama é o reverso de Trump, constantemente criticado pelo governador.

...que remete a Huck...

Segundo a Veja, Liegey está no Brasil nesta semana justamente para... prospectar clientes e conversar com o Agora!, movimento político cofundado por Huck.

...que remete a PH

Huck e Hartung tiveram seu encontro na quinta à noite, horas depois de o governador citar Macron para a coluna. Em resumo, como no poema “Quadrilha”, de Drummond, está tudo conectado.

Por falar em Drummond

Será que Hartung, oriundo do PCB mas convertido ao neoliberalismo, está mesmo querendo voltar a ser gauche nesta vida?

Cena política

Piada pronta: a chapa HH (Huck-Hartung), se confirmada, vai representar o encontro histórico entre o “Topa Tudo” e o “Caldeirão”. O primeiro programa de Huck na TV chamava-se “H”. Na gíria antiga, “fazer um agá” significa fazer algo para aparecer bem, para ficar bem na fita. Não troque de canal!

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