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Colnago volta ao jogo sucessório no Palácio Anchieta

Se PH não concorrer à reeleição, quem será o candidato do seu grupo, ungido por ele, ao Palácio Anchieta? De imediato, o nome que volta a ganhar força é o do vice-governador


Praça Oito - 23/11/2017
Praça Oito - 23/11/2017
Foto: Amarildo

A intensidade com que Paulo Hartung (PMDB) tem voltado a buscar inserção no cenário político nacional, com possível envolvimento na eleição presidencial, reabre inteiramente o jogo da sua própria sucessão no Espírito Santo.

Até meados de agosto, predominava a quase certeza, mantida até por aliados do governador, de que o caminho dele seria mesmo buscar a reeleição no Executivo estadual em 2018. Agora, os movimentos de Hartung indicam exatamente o contrário, o que reinaugura a questão: se PH não concorrer à reeleição, quem será o candidato do seu grupo, ungido por ele, ao Palácio Anchieta? De imediato, o nome que volta a ganhar força é o do vice-governador César Colnago (PSDB). Mas, até entre aliados governistas, há dúvidas quanto à densidade eleitoral do vice-governador para liderar a chapa majoritária da situação.

Colnago, a princípio, é considerado o candidato “natural” à sucessão de Hartung. Nesse cálculo, mais do que méritos, competitividade, identificação com PH etc., o que pesa a favor de tucano é uma questão de ordem muito prática, ligada ao calendário e à legislação eleitorais. Se Hartung for candidato a qualquer outra coisa que não à reeleição em 2018, será obrigado a se desligar do governo até o início de abril. Nesse caso, quem assume o governo, para concluí-lo no dia 31 de dezembro de 2018, é o vice-governador.

Pois bem, diante desse cenário, Colnago terá 3 opções. A primeira, inimaginável, é também se desincompatibilizar, para poder concorrer a algum outro mandato – por exemplo, deputado federal. Tal opção é impensável, pois assim o governo ficaria, por cerca de nove meses, nas mãos do próximo na linha sucessória: o presidente da Assembleia, Erick Musso (PMDB), que por sua vez quer ser candidato à Câmara. A conta não fecha.

A segunda opção de Colnago seria assumir de fato o governo no lugar de Hartung e concluir o mandato em 31 de dezembro, não sendo candidato a nada. Nesse caso, enquanto Colnago conduziria o governo até a linha de chegada, Hartung poderia lançar e apoiar outro candidato do mesmo grupo para a própria sucessão. Tal alternativa é até possível, mas dependeria de um detalhe fundamental: um grau de abdicação e de sacrifício político que Colnago muito dificilmente estaria disposto a demonstrar. Afinal, pedir ao tucano para ficar de fora das eleições de 2018 equivaleria a pedir para ele ficar fora do jogo político, sem mandato, pelo menos até 2020. Poucos acreditam que ele toparia se anular assim.

Aí caímos na terceira opção, que hoje desponta como a mais “lógica”: Colnago assume o governo em abril no lugar de Hartung e, uma vez no cargo, concorre à reeleição para permanecer no Palácio Anchieta até o fim de 2022. Qual é o grande “senão”? Por mais racional que soe a “solução Colnago”, auxiliares de Hartung hoje hesitam quanto ao real tamanho do vice e às reais chances que ele teria em derrotar nas urnas os adversários do Palácio – por exemplo, um candidato já testado como Renato Casagrande (PSB).

Aliados de Colnago recém-eleitos com ele para comandar a Executiva regional do PSDB afirmam: se cair no colo dele, o vice-governador está disposto a disputar o governo. Para isso, admitem, será necessário intensificar, para ontem, um trabalho fortíssimo por todo o Estado de modo a ampliar a visibilidade de Colnago – convenhamos, um vice pouco expressivo ao longo do atual mandato.

Essa interrogação quanto ao real potencial de Colnago entrará – aliás, com certeza já entrou – no cálculo político de Hartung quando ele tiver que decidir o que fazer. Em última análise, pode levá-lo inclusive a reconsiderar planos de voo no cenário nacional. Não por acaso, agora o governador tem dito que “topa tudo”, deixando todas as hipóteses em aberto.

Só com muita segurança

O governador Paulo Hartung é um player (jogador), mas não um gambler (apostador). Sua história mostra que não gosta de correr riscos muito altos, menos ainda em projetos que ele não possa controlar. Por isso, dentro do próprio governo, não falta quem acredite que Hartung só embarcará mesmo em um projeto nacional se tiver plena certeza de um lugar privilegiado em uma chapa competitiva. Do contrário, não vai embarcar em uma aventura para deixar aqui um candidato com chances limitadas de vitória. Se o fizer, corre o risco de ficar sem nada.

Pássaro na mão

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Se, em meados de março, pesquisas apontarem que PH não tem nem em Colnago nem em nenhum outro aliado um nome forte para a própria sucessão, é mais provável que ele mesmo parta para tentar o quarto mandato. O discurso já estaria preparado: “O Brasil me chamou, mas digo aos capixabas que fico, pois minha missão não está concluída. Após nosso ajuste fiscal, está na hora de fazer os investimentos”.

Contra a máxima

Um colaborador do governo discorda da avaliação de que “Hartung nunca entra em dividida”. Acha que essa máxima ficou para trás em 2014, quando ele peitou a máquina, foi para uma disputa eleitoral contra um governador bem avaliado e, na disputa nacional, assumiu lado e pediu votos para Aécio Neves (PSDB).

Sem vitrine eleitoral

Ao contrário de vices anteriores de Hartung, Colnago não assumiu nenhuma secretaria-vitrine. Para piorar, ao longo do atual mandato, projetos antes incubados na Vice-Governadoria foram gradativamente ganhando vida própria ou passando para outras mãos no governo.

De fora para dentro

Alguns governistas reconhecem: em geral, o trabalho de Hartung hoje é melhor avaliado fora do Estado do que pelos capixabas. Será outro fator determinante na decisão dele.

Sinais

Quem acompanha de perto garante: Colnago não tem feito movimentos de pré-candidato a deputado federal. E bancou a filiação de Octaciano Neto ao PSDB, em tese um concorrente forte à mesma vaga (o partido estima eleger só um candidato à Câmara no Espírito Santo). Colnago tem dito que espera fazer mais votos individuais que Octaciano. Pode ser. Mas, até para tucanos, a insistência do vice-governador em filiar o secretário estadual de Agricultura denota que o projeto de Colnago na verdade é outro, voltado para a chapa majoritária. No início, falou-se que ele poderia querer repetir a dobradinha com Hartung, como candidato a "vice de novo", em 2018. Mas talvez Colnago almeje mais.   

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