É uma daquelas ironias bem peculiares do Brasil: um hospital, último recurso daqueles que estão com a saúde debilitada e, por isso, em risco, ser ele próprio mais um perigo, por não garantir as mínimas condições de segurança aos seus funcionários e usuários. Em uma vistoria no início deste ano, ficou constatada uma série de irregularidades no Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória.
Foram relatados desde então um princípio de incêndio em um ar-condicionado e casos de curto-circuito. A solução não poderia ser mais improvisada - e dispendiosa: sem o alvará do Corpo de Bombeiros, uma viatura da corporação passou a fazer plantão 24 horas na frente da unidade, para que o funcionamento não fosse prejudicado. Uma situação que traduz de forma tragicômica o serviço público.
É oportuno dissecar o absurdo: os problemas da rede elétrica ainda passam por reparos, pelo menos é o que afirmam os responsáveis, então o risco de um incêndio é solucionado com a presença constante daqueles servidores públicos, que poderiam estar envolvidos em outras operações. Em frente ao hospital, basicamente, sua função é pacientemente esperar o fogo. Imagine o custo ao Estado se cada prédio público exigisse o mesmo tipo de cuidado.
A falta de alvará não é uma exclusividade do Hospital Infantil. Em setembro do ano passado, este jornal noticiou que uma ação civil movida pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) revelou que 171 prédios públicos municipais e 98 estaduais não possuíam a documentação. Entre eles, escolas e hospitais. Ficou evidente que o poder público é incapaz de ser o exemplo de suas próprias exigências. A soberba estatal, mais uma vez, deu as caras.
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No Hospital Infantil, a disponibilização de uma equipe dos Bombeiros foi uma medida compensatória, amparada por dispositivos legais vigentes. Diante da impossibilidade de garantir a proteção das crianças e de seus familiares, bem como a dos funcionários, com a implantação de uma estrutura adequada e com padrões de segurança atualizados, pode-se até dizer que alguma providência foi tomada. Mas é pouco, muito pouco. É uma circunstância que tem efeitos diretos na qualidade do serviço prestado, impondo aos profissionais da saúde a execução de seu trabalho em péssimas condições. A interdição, mesmo penosa, seria a opção mais segura.
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