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Organização criminosa aplica golpes em empresários no Espírito Santo

Organização criminosa aplica golpes em empresários no Espírito Santo

Prejuízo das vítimas chega perto de meio milhão de reais. Oito pessoas foram denunciadas à Justiça estadual pelo Gaeco, do Ministério Público Estadual

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 18:56

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Mala com dinheiro falso apreendida durante a Operação Engodo. (Divulgação | Polícia Federal)

Uma organização criminosa foi denunciada à Justiça estadual por aplicar golpes em empresários do Espírito Santo e de Minas Gerais. Das cinco vitimas identificadas até o momento, quatro tiveram prejuízos de quase meio milhão de reais. A quinta pessoa escapou do golpe um dia antes de fazer a entrega do dinheiro em decorrência de uma operação policial.

O golpe era aplicado quando os empresários eram "convidados" a serem parceiros comerciais em um empreendimento. A eles era oferecida uma expressiva quantia em dinheiro. Em troca, pagavam uma "propina" ao grupo que os procurava pela intermediação do "negócio". Com o acordo fechado, recebiam uma maleta lacrada com o dinheiro, mas, tardiamente, descobriam que as notas eram falsas.

Oito pessoas foram denunciadas após investigações realizadas pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual. Do grupo, cinco eram responsáveis, diretamente, pela aplicação dos golpes. Os demais atuavam fazendo a lavagem do dinheiro obtido com os crimes. São eles: Rogério Badaró de Souza, Idelvino Mendes Gil Filho, Horley Amaral Mendes, Rozemaria Badaró de Souza, Kennedy Vieira Fonseca, Patrícia Junker dos Santos Badaró, Iala Ramos Mendes Gil e Ludimyla Ozana Vieira Domingos.

Quatro deles chegaram a ser presos, no ano passado, durante a Operação Engodo, realizada pela Polícia Federal. O relatório final por eles feito chegou à conclusão de que a quadrilha praticava estelionato, crime de moeda falsa, uso de sinal público, crimes que responderam na Justiça Federal, que liberou os detidos nos meses que se seguiram. Atualmente, estão todos soltos. Já o crime de organização criminosa teve a investigação transferida para o Gaeco, que fez agora a denúncia à Justiça estadual.

O GOLPE

De acordo com a denúncia feita pelo Gaeco à Justiça estadual, o golpe era iniciado por Rozemeria, que usa o nome falso de Rosana Campos. Ela usava o pretexto de apresentar um amigo e investidor que buscava parceiros comerciais. O passo seguinte era articular o contato das vitimas com seu irmão, Rogério Badaró, que também usava o nome falso de Fabio Resende. Ele se apresentava como um assessor parlamentar do Senado ou representante de um grupo empresarial de investidores.

As primeiras conversas eram por telefone, mas, em seguida, Badaró marcava um encontro presencial para melhor exposição do "negócio", com o objetivo de ganhar a confiança e a credibilidade das vítimas. Apresentava malas de dinheiro dizendo que tinha contatos em Brasília.

Após conseguir a confiança das vitimas e explicar a vantagem que teria com a negociação, Badaró apresentava o outro golpista, Idelvino, que se apresentava como o nome falso de Dr. Geovane. Outra ação que tinha a função de dar mais credibilidade ao golpe. Era colocado, inclusive, como condição para o "investimento" ser realizado, uma reunião com Geovane, que falsamente era dito como sobrinho do ex-deputado federal João Alves.

Idelvino era o responsável ainda por fechar os golpes e receber as propinas. As reuniões eram sempre marcadas em hotéis e as reservas feitas em nome de outro golpista, Horlei Amaral Mendes, que é irmão de Idelvino. Ele também dirigia o veiculo para Idelvino e Badaró, assim como outro comparsa, Kennedy Vieira Fonseca. Os dois diziam que eram motoristas de aplicativo.

Nos encontros, Badaró e Idelvino apresentavam uma amostra do dinheiro, retirada de uma maleta, para constatação de que as notas eram verdadeiras. Era neste momento que exigiam a comissão deles pela intermediação do "negócio". Informavam que a propina não poderia ser deduzida da maleta que seria destinada ao empresário porque ela já viria de Brasília lacrada.

As vitimas, ludibriadas pelo longo processo de negociação que chegava a durar meses, aceitavam o negócio e concordavam em pagar a propina pela intermediação. Na prática trocavam o dinheiro verdadeiro pelo falso. As transações aconteciam em estacionamento públicos de shoppings, supermercados e aeroportos.

VÍTIMAS

Algumas vítimas só descobriram que estavam com dinheiro falso quando chegaram em suas cidades e, ao retornarem a ligação para a quadrilha, descobriam que o telefone já não mais era atendido. Uma delas só descobriu o golpe quando soube da operação da Polícia Federal.

O maior prejuízo foi de um empresário do ramo de café. Ele pagou R$ 300 mil pela intermediação e recebeu uma maleta com R$ 500 mil em notas falsas. A um empresário do ramo de transporte, que enfrenta dificuldades financeiras, foi oferecido um montante de R$ 1 milhão, em troca de propina de R$ 200 mil. Ele não aceitou e acabou fechando o acordo em um valor reduzido para R$ 250 mil, com intermediação de R$ 70 mil, que resultou em seu prejuízo.

Dois empresários de Minas Gerais, cuja negociação de entrega da maleta foi feita no aeroporto de Confins, no estado mineiro, perderam R$ 50 mil. Um outro, da também cidade mineira de Laginha, quase perdeu R$ 180 mil. Ele chegou a vir a Vitória para fazer as negociações. Um dia antes da entrega da maleta acontecer ocorreu a operação da Polícia Federal, que prendeu parte da quadrilha.

Para o Gaeco o número de vítimas pode ser ainda maior do que as cinco presentes na denúncia, por se tratarem de empresários que podem ter se recusado a procurar os órgãos de investigação, o que ainda pode ser feito A denúncia inclusive pede pelo menos R$ 420 mil destinados à reparação dos danos causados às vítimas.

INVESTIGAÇÕES

De acordo com a denúncia do Gaeco, não há dúvidas de que se trata de uma organização criminosa. "Os investigados estruturam-se de forma organizada, com divisão clara de tarefas, inclusive com nomes fictícios, com objetivo claro de obter vantagens econômicas exorbitantes mediante a prática de inúmeros crimes de estelionato", destaca o texto da denúncia presente em processo na Justiça estadual. Uma prova da estruturação do grupo é que os integrantes estão realizando crimes em outros estados.

As investigações apontam que a organização criminosa vem atuando com este tipo de golpe pelo menos desde 2014, conforme declarações prestadas por uma das integrantes do grupo. As notas falsas eram produzidas em uma gráfica em Uberaba, Minas Gerais. Eram enviadas para a casa de Horley ou buscadas por ele diretamente na gráfica. A falsificação foi considerada bem tosca pela PF.

A denúncia contra o grupo aponta ainda que alguns membros participavam das atividades criminosas fazendo a lavagem do dinheiro obtido de forma criminosa. "A organização criminosa conseguiu muito dinheiro decorrente dos golpes. Parte dos recursos se reverteu em evolução patrimonial dos seus integrantes. Outra parte foi colocada em nome de terceiros, de modo a transformar o dinheiro em patrimônio aparentemente lícito por meio da prática de lavagem de dinheiro com a ciência destes terceiros", diz o texto da denúncia.

Na denúncia foi pedida a prisão preventiva de todos os envolvidos na organização criminosa, além da quebra de sigilo fiscal de todos, bem como o sequestro de seus bens.

A reportagem não conseguiu localizar os denunciados e nem seus advogados para se manifestarem sobre a denúncia. Os empresários não estão tendo seus nomes revelados porque foram vítimas dos golpes.

OS DENUNCIADOS

1. Rozemaria Badaró de Souza

Mais conhecida como Rozi, utilizava o nome falso de Rosana Campos. Iniciava o contato com as vítimas e apresentava o seu irmão, Rogério Badaró

2. Rogério Badaró de Souza

Usava o nome falso de Fábio Rezende. Se apresenta como um assessor parlamentar do Senado ou representante de um grupo empresarial de investidores. Dá início ao golpe explicando para as vítimas como será o negócio.

3. Idelvino Mendes Gil Filho

Usava os nomes falsos de Dr. Geovane ou Dr. André. Tem a função de dar mais credibilidade ao golpe. Diz falsamente ser sobrinho do ex-deputado federal João Alves

4. Horley Amaral Mendes

É irmão de Idelvino. Fzia as reservas dos locais de encontro para as negociações e também dirigia para Badaró e Idelvino. Se apresenta como motorista de Uber

5. Kennedy Vieira Fonseca

Outro membro da organização, se apresenta como motorista de Uber

6. Patrícia Junker dos santos Badaró

Casada com rogério Badaró. Ajudou a lavar o dinheiro dos golpes

7. Iala Ramos Mendes Gil

Filha de Idelvino, mora em Uberaba, Minas Gerais, onde eram falsificadas as notas, enviadas para Horley.

Ajudou a lavar o dinheiro dos golpes

8.Ludimyla Ozana Vieira Domingos

Ajudou a lavar o dinheiro dos golpes

PERFIL DAS VÍTIMAS

 1.  Dois proprietários de uma empresa de móveis do interior do Estado. Tiveram prejuízo de R$ 70 mil ao pagarem, em 3 de março de 2017 o valor da intermediação em um estacionamento de shopping em Vitória. Levou uma maleta, na troca, com R$ 500 mil em notas.

 2.  Empresário do ramo do café. O prejuízo dele foi de R$ 300 mil. Pagou a propina em 3 de novembro de 2016 em um estacionamento de shopping em Vitória. Recebeu uma maleta com R$ 500 mil falsos e só percebeu a fraude quando chegou em sua cidade, no interior do Estado.

 3.  Dois empresários mineiros. A entrega do dinheiro falso para eles foi feita no dia 10 de julho de 2017, no aeroporto de Confins, em Minas Gerais. Tiveram prejuízo de R$ 50 mil com o pagamento da propina.

 4.  Empresário do ramo de transporte. A ele foi oferecida a quantia de R$ 1 milhão, em troca de R$ 200 mil de propina. Ele decidiu pagar R$ 50 mil pela intermediação em troca de uma maleta com R$ 200 mil de notas falsas.

 5.  Empresário de Laginha, em Minas Gerais. A ele foi oferecida a quantia de R$ 500 mil em troca de propina de R$ 180 mil. Não teve prejuízo porque um dia antes da troca ocorreu a operação da Polícia Federal que prendeu parte da organização criminosa.

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