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Parte de quadrilha que aplicava golpes em empresários no ES é presa

Parte de quadrilha que aplicava golpes em empresários no ES é presa

Prisões aconteceram na manhã desta segunda-feira (22), em Vila Velha. Três foram presos em apartamento de alto padrão

Publicado em 22 de outubro de 2018 às 18:32

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Mala com dinheiro falso apreendida durante a Operação Engodo. (Divulgação | Polícia Federal)

Quatro dos cinco membros de uma organização criminosa que aplicava aplicava golpes em empresários do Espírito Santo e de Minas Gerais foram presos na manhã desta segunda-feira (22). Há uma quinta pessoa que não foi localizada e já é considerada foragida. Pelo menos quatro vítimas tiveram prejuízos de quase meio milhão de reais.

Parte de quadrilha que aplicava golpes em empresários no ES é presa

O golpe era aplicado quando os empresários eram "convidados" a serem parceiros comerciais em um empreendimento. A eles era oferecida uma expressiva quantia em dinheiro. Em troca, pagavam uma "propina" ao grupo que os procurava pela intermediação do "negócio". Com o acordo fechado, recebiam uma maleta lacrada com o dinheiro, mas, tardiamente, descobriam que as notas eram falsas.

Oito pessoas foram denunciadas após investigações realizadas pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual. A denúncia foi aceita pela Justiça estadual que determinou a prisão preventiva, por tempo indefinido, dos cinco responsáveis, diretamente, pela aplicação dos golpes. Os demais atuavam fazendo a lavagem do dinheiro obtido com os crimes.

Foram presos na manhã desta segunda-feira Rogério Badaró de Souza, Idelvino Mendes Gil Filho, Horley Amaral Mendes, Rozemaria Badaró de Souza. Os homens foram encaminhados ao Centro de Detenção Provisória de Viana II. A mulher foi transferida para o Presídio Feminino de Cariacica. Está foragido Kennedy Vieira Fonseca. Os demais membros atuavam fazendo a lavagem do dinheiro obtido com os crimes. São eles: Patrícia Junker dos Santos Badaró, Iala Ramos Mendes Gil e Ludimyla Ozana Vieira Domingos.

Parte superior da imagem: Horlei Amaral Mendes e Rozemaria Badaró de Souza. Na parte inferior, da esquerda para a direita, Idelvino Mendes Gil Filho e Rogério Badaró. (Divulgação | Montagem Gazeta Online)

Os três homens foram presos em um prédio considerado de padrão elevado, localizado na Rodovia do Sol, em Vila Velha. Um deles possuía um apartamento no local e os outros dois alugavam os imóveis. Já a mulher foi detida em outro local, não informado, em Vila Velha. Também houve cumprimento de mandado de busca e apreensão nas casas dos membros da organização criminosa. Quanto a Kennedy, continua sendo procurado pela polícia.

O GOLPE

De acordo com a denúncia feita pelo Gaeco à Justiça estadual, o golpe era iniciado por Rozemaria, que usa o nome falso de Rosana Campos. Ela usava o pretexto de apresentar um amigo e investidor que buscava parceiros comerciais. O passo seguinte era articular o contato das vitimas com seu irmão, Rogério Badaró, que também usava o nome falso de Fabio Resende. Ele se apresentava como um assessor parlamentar do Senado ou representante de um grupo empresarial de investidores.

Kennedy Vieira da Fonseca está foragido. (Divulgação)

As primeiras conversas eram por telefone, mas, em seguida, Badaró marcava um encontro presencial para melhor exposição do "negócio", com o objetivo de ganhar a confiança e a credibilidade das vítimas. Apresentava malas de dinheiro dizendo que tinha contatos em Brasília.

Após conseguir a confiança das vitimas e explicar a vantagem que teria com a negociação, Badaró apresentava o outro golpista, Idelvino, que se apresentava como o nome falso de Dr. Geovane. Outra ação que tinha a função de dar mais credibilidade ao golpe. Era colocado, inclusive, como condição para o "investimento" ser realizado, uma reunião com Geovane, que falsamente era dito como sobrinho do ex-deputado federal João Alves.

Idelvino era o responsável ainda por fechar os golpes e receber as propinas. As reuniões eram sempre marcadas em hotéis e as reservas feitas em nome de outro golpista, Horlei Amaral Mendes, que é irmão de Idelvino. Ele também dirigia o veiculo para Idelvino e Badaró, assim como outro comparsa, Kennedy Vieira Fonseca. Os dois diziam que eram motoristas de aplicativo.

Nos encontros, Badaró e Idelvino apresentavam uma amostra do dinheiro, retirada de uma maleta, para constatação de que as notas eram verdadeiras. Era neste momento que exigiam a comissão deles pela intermediação do "negócio". Informavam que a propina não poderia ser deduzida da maleta que seria destinada ao empresário porque ela já viria de Brasília lacrada.

As vitimas, ludibriadas pelo longo processo de negociação que chegava a durar meses, aceitavam o negócio e concordavam em pagar a propina pela intermediação. Na prática trocavam o dinheiro verdadeiro pelo falso. As transações aconteciam em estacionamento públicos de shoppings, supermercados e aeroportos.

VÍTIMAS

Algumas vítimas só descobriram que estavam com dinheiro falso quando chegaram em suas cidades e, ao retornarem a ligação para a quadrilha, descobriam que o telefone já não mais era atendido. Uma delas só descobriu o golpe quando soube da operação da Polícia Federal.

O maior prejuízo foi de um empresário do ramo de café. Ele pagou R$ 300 mil pela intermediação e recebeu uma maleta com R$ 500 mil em notas falsas. A um empresário do ramo de transporte, que enfrenta dificuldades financeiras, foi oferecido um montante de R$ 1 milhão, em troca de propina de R$ 200 mil. Ele não aceitou e acabou fechando o acordo em um valor reduzido para R$ 250 mil, com intermediação de R$ 70 mil, que resultou em seu prejuízo.

Dois empresários de Minas Gerais, cuja negociação de entrega da maleta foi feita no aeroporto de Confins, no estado mineiro, perderam R$ 50 mil. Um outro, da também cidade mineira de Laginha, quase perdeu R$ 180 mil. Ele chegou a vir a Vitória para fazer as negociações. Um dia antes da entrega da maleta acontecer ocorreu a operação da Polícia Federal, que prendeu parte da quadrilha.

Para o Gaeco o número de vítimas pode ser ainda maior do que as cinco presentes na denúncia, por se tratarem de empresários que podem ter se recusado a procurar os órgãos de investigação, o que ainda pode ser feito A denúncia inclusive pede pelo menos R$ 420 mil destinados à reparação dos danos causados às vítimas.

INVESTIGAÇÕES

De acordo com a denúncia do Gaeco, não há dúvidas de que se trata de uma organização criminosa. "Os investigados estruturam-se de forma organizada, com divisão clara de tarefas, inclusive com nomes fictícios, com objetivo claro de obter vantagens econômicas exorbitantes mediante a prática de inúmeros crimes de estelionato", destaca o texto da denúncia presente em processo na Justiça estadual. Uma prova da estruturação do grupo é que os integrantes estão realizando crimes em outros estados.

Operação Engodo para combate de crimes de estelionato e moeda falsa no Espírito Santo. (Divulgação |Polícia Federal)

As investigações apontam que a organização criminosa vem atuando com este tipo de golpe pelo menos desde 2014, conforme declarações prestadas por uma das integrantes do grupo. As notas falsas eram produzidas em uma gráfica em Uberaba, Minas Gerais. Eram enviadas para a casa de Horley ou buscadas por ele diretamente na gráfica. A falsificação foi considerada bem tosca pela PF.

A denúncia contra o grupo aponta ainda que alguns membros participavam das atividades criminosas fazendo a lavagem do dinheiro obtido de forma criminosa. "A organização criminosa conseguiu muito dinheiro decorrente dos golpes. Parte dos recursos se reverteu em evolução patrimonial dos seus integrantes. Outra parte foi colocada em nome de terceiros, de modo a transformar o dinheiro em patrimônio aparentemente lícito por meio da prática de lavagem de dinheiro com a ciência destes terceiros", diz o texto da denúncia.

Na denúncia foi pedida a prisão preventiva de todos os envolvidos na organização criminosa, além da quebra de sigilo fiscal de todos, bem como o sequestro de seus bens.

A reportagem não conseguiu localizar os denunciados e nem seus advogados para se manifestarem sobre a denúncia. Os empresários não estão tendo seus nomes revelados porque foram vítimas dos golpes.

OS DENUNCIADOS

1. Rozemaria Badaró de Souza

Denunciada por organização criminosa, estelionato e tentativa de estelionato. Mais conhecida como Rozi, utilizava o nome falso de Rosana Campos. Iniciava o contato com as vítimas e apresentava o seu irmão, Rogério Badaró. Foi presa.

2. Rogério Badaró de Souza

Denunciado por organização criminosa, estelionato, tentativa de estelionato e lavagem de dinheiro. Usava o nome falso de Fábio Rezende. Se apresenta como um assessor parlamentar do Senado ou representante de um grupo empresarial de investidores. Dá início ao golpe explicando para as vítimas como será o negócio. Foi preso.

3. Idelvino Mendes Gil Filho

Denunciado por organização criminosa, estelionato, tentativa de estelionato e lavagem de dinheiro. Usava os nomes falsos de Dr. Geovane ou Dr. André. Tem a função de dar mais credibilidade ao golpe. Diz falsamente ser sobrinho do ex-deputado federal João Alves. Foi preso.

4. Horley Amaral Mendes

Denunciado por organização criminosa, estelionato e tentativa de estelionato. É irmão de Idelvino. Fzia as reservas dos locais de encontro para as negociações e também dirigia para Badaró e Idelvino. Se apresenta como motorista de Uber. Foi preso.

5. Kennedy Vieira Fonseca

Denunciado por organização criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro. Outro membro da organização, se apresenta como motorista de Uber. Está foragido

6. Patrícia Junker dos santos Badaró

Denunciada por lavagem de dinheiro. Casada com Rogério Badaró.

7. Iala Ramos Mendes Gil

Denunciada por lavagem de dinheiro. Filha de Idelvino, mora em Uberaba, Minas Gerais, onde eram falsificadas as notas, enviadas para Horley.

8. Ludimyla Ozana Vieira Domingos

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Denunciada por lavagem de dinheiro.

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