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Quadrilha que adulterava carretas soube de operação um ano antes

Quadrilha que adulterava carretas soube de operação um ano antes

Suposto hacker enviou informações para acusado via WhatsApp

Publicado em 24 de novembro de 2018 às 01:10

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Um anos de operação, acusado foi avisado por hacker. (Reprodução)

Um dos líderes da quadrilha que fraudava documentos de instalação de eixos em carretas, o empresário capixaba Mário Jacob, 68, foi avisado das investigações um ano e dois meses antes de ser preso, na última quarta-feira (21), durante a Operação Raptores.

Jacob prestou depoimento à polícia sobre o caso nesta sexta-feira (23). Ele está preso no Centro de Detenção Provisória da Viana, onde ficam duas oficinas usadas pelos integrantes do esquema para fazer as adulterações ilegais nas carrocerias dos veículos.

Carretas adulteradas , quadrilha soube de operação a PRF um ano antes

Havia oficinas usadas para a realização das fraudes também em Linhares e Cachoeiro do Itapemirim. Ao todo, foram identificadas 579 carretas com a estrutura adulterada, 151 delas com a autoria da fraude comprovada.

Realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Ministério Público Estadual (MPE), as investigações que resultaram na prisão temporária de 14 pessoas vinham desde o início de 2017 e tinha envolvidos do Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais.

Em 18 de setembro de 2017, o empresário Mário Jacob recebeu diversas mensagens em seu aparelho celular, via WhatsApp, de um número com DDD de Pernambuco, informando que ele era o centro das investigações.

Nascido em Santa Maria do Jetibá, Mário Jacob reside num condomínio de luxo em Teixeira de Freitas (extremo sul da Bahia), onde possui empresa de inspeção automotiva em sociedade com a esposa Wesllane Shoenrock Jacob, também presa.

As mensagens recebidas pelo empresário são de um homem que disse ser hacker e atuar no crime. Elas mostram prints do organograma das investigações, nomes de envolvidos que também foram presos e transcrições de grampos telefônicos feitos pela PRF, inclusive de Jacob.

Mas ainda não está confirmado se o autor das mensagens é mesmo um hacker, pois a PRF, ao negar que seu sistema tenha sido invadido, declarou que “há registro de tentativas de acesso, mas sem sucesso”.

O órgão federal confirmou, contudo, que “as imagens apresentadas representam parte de um relatório preliminar”. “Isso foi por acaso”, diz, em umas das mensagens, o suposto hacker sobre a descoberta das investigações.

“Achava que ‘invadi’ o computador de alguém e, quando olhava, vi que era de uma DP [delegacia de polícia]”, e mais adiante afirma que o computador era da PRF, e avisa a Mário Jacob que ele é “foco de uma operação de clonagem de carros”.

Nas conversas, o empresário capixaba se diz surpreso com o material recebido, mas confirma que conhece os investigados Marcelo Belmiro Lauvres e Josenilton Costa Silva (dono de uma oficina), também presos na operação.

No organograma da PRF, aparecem fotos dos investigados Mailzo Quaresma Pereira, Khened Batista dos Santos e Felipe Lago Marinho – estes dois são da Ciretran (órgão estadual de trânsito) das cidades baianas de Alcobaça e Itamaraju, respectivamente.

Mailzo aparece nas investigações como dono de uma oficina, mas, na parte informada pelo suposto hacker, não há informações sobre o local. A transcrição dos grampos telefônicos dizem que “Mailzo já fez alguns serviços de inclusão de eixos para Mário”.

“Porém, em relação aos semirreboques de placas KFO-4421 e KFO-4621 fica evidente que Mário não queria apenas realizar o serviço de inclusão de eixos e pintura, mas sim de adulteração, porque nos diálogos abaixo diz para Mailzo que vai fazer aquele serviço e pegar o papel do outro bitrem que ele comprou e vai colocar nesse que Mailzo está mexendo”, relata a transcrição do grampo.

HACKER SUGERIU A SUSPEITO BUSCAR ADVOGADO E FUGIR

Um anos de operação, acusado foi avisado por hacker. (Reprodução)

A pessoa que enviou as mensagens para o empresário capixaba Mário Jacob em 2017 chegou a orientá-lo a procurar um advogado. “Se eu fosse o senhor, falava com o seu advogado. Pelo que eu vi é sério. Uma operação”, escreveu. Em outro momento, ele sugere ainda que o homem fuja com a esposa: “aconselho o senhor pegar sua esposa e viajar. É melhor o senhor sair daí o mais rápido possível porque pra provar a inocência depois de preso é complicado.”

Os prints demonstram que a troca de mensagens durou por mais de um dia. O suposto hacker tentou extorquir dinheiro do empresário duas vezes pedindo R$ 5 mil e R$ 1,5 mil para continuar o monitoramento das investigações. “Tem muita coisa aqui, to puxando tudo, muitas escutas”, diz mensagem.

Orientado pelo advogado, a quem procurou logo após o contato do suposto hacker, Jacob continuou a usar o mesmo número de telefone, como se não soubesse de nada.

“Sr. Mário, para sua segurança não efetue mais ligações”, orienta. “Eu tenho acesso a tudo que eles sabem e posso até interferir em partes ao seu favor se o sr. estiver disposto a me ajudar”, ele continua.

O advogado Gean Prates, que defende o empresário Mário Jacob, a esposa Wesllane e Bruno Carvalho Pimentel, ao comentar o assunto disse que Jacob “tinha conhecimento da operação e não mudou a rotina dele”.

“Nunca se furtou a ser intimado, e ele compareceria à polícia independente de qualquer coisa. Pelo que vi das investigações, pode ter sido uma falha no sistema do Detran (órgão estadual de trânsito da Bahia). Não se cometeu ilícitos penais”, disse.

OUTRO LADO

Em nota, o MPES informou apenas que os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-Central) “têm conhecimento do caso e que estão tomando as devidas providências”, sem fazer comentários sobre o assunto.

A PRF, em comunicado, declarou que “a divulgação (das investigações sobre o empresário Mário Jacob) naquela data não trouxe prejuízos à conclusão do trabalho”. “Mesmo sem impacto na operação, tais imagens serão analisadas e periciadas, para identificação de sua origem”, informou.

Sobre a segurança em seu sistema de computadores, a polícia informou que ela “segue os principais e mais atualizados protocolos”. Afirmou que “toda atividade de apuração da área de inteligência da PRF é concentrada em servidores isolados da internet e da própria rede interna, fato que impede qualquer acesso externo”.

“Os servidores da inteligência da PRF/ES, únicos com acesso ao conteúdo da operação no âmbito do DPRF, são capacitados e especializados na compartimentação de dados, em segurança orgânica e da informação, além de atuarem em estrito sigilo funcional”, afirma o comunicado.

PRISÃO DE ENVOLVIDOS VENCE NO SÁBADO E MINISTÉRIO PÚBLICO AVALIA PRORROGAÇÃO

Os 13 detidos pela operação Raptores na última quarta-feira (21) podem não ficar presos por muito tempo. A prisão dos envolvidos tem validade de cinco dias e o Ministério Público, no entanto, afirmou que ainda vai avaliar se pede ou não a prorrogação.

Caso o MPES não faça o pedido, eles podem deixar a penitenciária na madrugada de domingo. A prisão temporária tem duração de cinco dias, podendo ser prorrogada por mais cinco.

O órgão pode ainda, pedir que a prisão seja convertida em preventiva, ou seja, sem prazo definido para terminar.

GAECO

As prisões foram realizadas no Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais. Para dar prosseguimento à investigação, todos os detidos foram trazidos para o Estado. Eles prestam depoimento na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-Central)

FORAGIDOS

Duas pessoas ainda estão foragidas. Uma delas é Cleidiomar Costa de Oliveira, de Vila Velha. Consta no registro de CNPJ que Cleidiomar é dono de uma empresa que fabrica cabines, carrocerias e reboques para caminhões em Viana. Luiz Simão de Melo Neto, de Uberlândia (MG), também não foi preso ainda.

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