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Pastora é encaminhada para o presídio em Minas Gerais

Pastora é encaminhada para o presídio em Minas Gerais

Juliana Pereira Sales Alves foi presa nesta quarta-feira em Teófilo Otoni após decisão da Justiça do Espírito Santo. Ela passou a noite na delegacia e pela manhã seguiu para o Presídio Feminino no município mineiro

Publicado em 15 de novembro de 2018 às 14:38

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Pastora Juliana Sales disse que foi para MG fazer um tratamento médico. Foto: Umberto Lemos/InterTV). (Umberto Lemos | InterTV)

A pastora Juliana Pereira Salles Alves, que foi presa novamente na tarde de quarta-feira (14), em Teófilo Otoni, Minas Gerais, foi encaminhada para uma penitenciária do município mineiro na manhã desta quinta-feira (15). Ela passou a noite na delegacia e pela manhã seguiu para o Presídio Feminino de Teófilo Otoni, mesmo local em que ficou detida quando foi decretada sua prisão em junho deste ano. Ainda não há informações de quando ela será transferida para o ES.

Pastora é encaminhada para o presídio em Minas Gerais

Juliana estava em liberdade provisória desde o último dia 7. Na madrugada do dia 8, ela saiu do Centro Prisional de Cariacica, na Grande Vitória, e seguiu para Minas Gerais. No entanto, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) recorreu da decisão do juiz André Bijus Dadalto, titular da 1ª Vara Criminal de Linhares, que mandou soltar a pastora na semana passada. Um novo pedido de prisão preventiva foi decretado pela juíza Emília Coutinho Lourenço, que está substituindo Dadalto durante as férias.

O MPES, por meio da Promotoria de Justiça Criminal de Linhares, informou que o juízo da 1ª Vara Criminal de Linhares atendeu ao requerimento formulado pelo órgão, no recurso interposto e reconsiderou a decisão anterior, decretando novamente a prisão da pastora.

O mandado de prisão foi destinado à Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de Linhares. A 16ª Delegacia Regional de Linhares entrou em contato com a Delegacia de Teófilo Otoni para cumprir a ordem de prisão. Juliana foi detida enquanto estava em um estabelecimento comercial acompanhada de uma amiga, por volta das 15h30, no Centro da cidade mineira. Ela não resistiu à detenção.

O OUTRO LADO

Procurados pela reportagem do Gazeta Online, os advogados de Juliana não atenderam as ligações.

"CONDUTA  OMISSIVA"

A pastora é acusada pelo MPES de "conduta omissiva" em relação à morte de seus filhos, Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Salles Alves, de 3 anos. Segundo a Polícia Civil, os irmãos foram estuprados, agredidos e queimados vivos pelo marido de Juliana, Georgeval Alves Gonçalves, conhecido como pastor George. Ele é pai de Joaquim e padrasto de Kauã. O crime aconteceu em 21 de abril deste ano e George foi preso uma semana depois, em 28 de abril. Desde então, ele está no Centro de Depenção Provisória (CDP) de Viana, na Grande Vitória.

LIBERDADE GEROU REVOLTA EM PAI DE KAUÃ

Em breve conversa com o Gazeta Online, o pai biológico de Kauã, Rainy Butkovsky, expressou sua indignação com a novidade. "Só tem safado na Justiça brasileira; a Justiça é uma fábrica de monstros", desabafou, reforçando que não comentaria mais sobre o caso.

Rainy Butkovsky, o pai de Kauã. (Marcelo Prest)

Para o advogado Siderson Vitorino, que assessora o pai de Kauã, a saída da pastora do Centro Prisional Feminino de Cariacica, foi um absurdo.

"É um absurdo a concessão da liberdade de Juliana. A decisão do juiz vai de encontro com as regras do Código Penal, que permite a prisão preventiva para preservação da ordem pública, processual e a garantia da aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime. Juliana é acusada de fraude processual e foi presa em Minas Gerais", disse.

O CRIME

Na madrugada do dia 21 de abril de 2018, os irmãos Kauã e Joaquim morreram carbonizados na casa onde moravam, em Linhares. O pastor Georgeval Alves, pai de Joaquim e padrastro de Kauã, estava sozinho na residência com as crianças.

No dia 28 do mesmo mês, o pastor foi preso após a Justiça expedir um mandado de prisão temporária por 30 dias porque o homem estava atrapalhando as investigações do incêndio que matou as crianças.

Pastor George quando foi ao DML de Vitória. (Marcelo Prest | Arquivo | GZ)

As declarações mentirosas e contraditórias dadas por George Alves levaram a Polícia Civil a desconfiar de que a morte dos irmãos Joaquim, de 3 anos, e Kauã, de 6 anos, não havia sido provocada por um incêndio acidental.

À imprensa, na porta do Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, na tarde do dia 23 de abril, o pastor declarou que tentou salvar o filho e o enteado, mas não conseguiu por conta do fogo intenso. Na entrevista, ele ainda falou sobre fé e representou como teriam sido os últimos momentos de vida das crianças. Todas as declarações foram desmentidas posteriormente pela força-tarefa criada para investigar o caso.

SANGUE

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Tirei um tempo para assistir a um filme com eles à noite. Me pediram leite com achocolatado. O mais novo, Joaquim, dormiu primeiro. Eu coloquei ele na cama, liguei o ar-condicionado, liguei a babá eletrônica e retornei para o escritório, onde continuei com o Kauã até por volta de meia-noite. Aí pedi para que ele fosse dormir também. Coloquei a mão sobre a cabeça dele, oramos juntos, pedi para que Deus o guardasse, protegesse. Nesse momento, eu cobri ele e saí do quarto

Pastor George à polícia
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 O que concluiu a investigação 

Vizinhos ouviram os gritos das crianças pouco tempo antes de elas serem mortas. Os irmãos foram estuprados, agredidos e depois queimados por George, segundo a polícia. Traços de sangue de Joaquim foram encontrados no box do banheiro social da casa e na escrivaninha do quarto das vítimas.

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Eu voltei até o meu quarto, tomei banho, liguei a babá eletrônica e dormi. Por volta das 2 horas, eu escutei os gritos deles pela babá eletrônica. Eu vi o fogo muito grande na imagem, corri desesperado... a casa já não tinha mais luz

Pastor George à polícia
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Perícia concluiu que Joaquim e Kauã estavam desacordados quando foram queimados vivos, portanto não gritaram. Imagens de câmeras de videomonitoramento próximas à casa mostram que o fogo começou às 2h20.

QUARTO FECHADO

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Eu corri e empurrei a porta do quarto deles, que estava entreaberta, encostada, por conta do ar-condicionado. Entrei e escutei o choro deles. Eles gritavam: pai, pai, pai. Pus a mão na cama e não consegui pegar meus filhos. O Kauã desceu para a cama de baixo, era uma beliche, acho que para tentar salvar o irmão

Pastor George à polícia
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 O que concluiu a investigação 

Porta e janela do quarto estavam fechadas. As crianças estavam desmaiadas e não gritaram pedindo ajuda. Portanto, Kauã não tentou salvar o irmão, segundo a perícia. O pastor também não chegou perto da cama enquanto ela queimava.

SEM QUEIMADURAS

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Eles se abraçaram e não consegui vencer o fogo. Eu queimei meus pés e minhas mãos. Saí gritando, desesperado. Eu tentei entrar três vezes para salvar, mas duas pessoas que estavam passando me tiraram da casa. Eu não ouvia mais a voz deles

Pastor George à polícia
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 O que concluiu a investigação 

George não apresentava nenhuma lesão de queimadura no corpo que indicasse que ele tentou salvar os filhos. Os corpos estavam lado a lado na cama e ainda não se sabe se foram colocados desta forma por George ou se um caiu da parte de cima do beliche quando o móvel foi destruído. O pastor não gritou pedindo socorro no momento em que o fogo começou. Ele foi visto dando voltas na varanda da casa, de cueca, e só se manifestou quando vizinhos começaram a aparecer oferecendo ajuda.

FRIEZA

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O único respaldo que tenho agora é de Deus. A força que tenho mantido junto com minha esposa... temos a plena certeza e convicção que é Ele que está nos segurando. Eu creio que há um propósito eterno para tudo isso. Creio que pessoas serão alcançadas por esse testemunho. Há um senso de urgência, o mundo precisa de Deus. Não tem uma resposta se não for Deus. Se não fosse Ele eu não estaria aqui

Pastor George
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No mesmo dia em que matou o filho e o enteado, George Alves participou de um culto na Igreja Batista Vida e Paz de Linhares acompanhado da esposa Juliana Alves. Com os pés enfaixados, ele chorou muito e foi amparado por amigos e membros da congregação. No dia seguinte ao crime, o pastor comandou o culto e convocou os fiéis horas antes pela internet. “#EU DISSE SIM VOU ATE O FIM# *estarei ministrando, espero vcs”, publicou ele na ocasião.

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Em relação aos trâmites, ter que vir para Vitória (para fazer exame de DNA e liberar corpos), ou esperar, para mim isso é irrisório. Não estou levando em consideração. Não tem nada maior que a perda dos meus filhos. Nada vai ser mais difícil. Para mim isso é irrelevante nesse momento. Não tem me abalado. Creio que os órgãos responsáveis estão fazendo de tudo

Pastor George à imprensa
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Após um mês de investigação, a polícia divulgou nesta quarta-feira (23) que o pastor George Alves é acusado de estuprar, espancar e queimar vivos o filho, Joaquim, de 3 anos, e o enteado, Kauã, de 6 anos.

A CONCLUSÃO DO CRIME BÁRBARO

Pastor George Alves foi preso na manhã de sábado, 28 de abril, em Linhares. (Frideberto Viega | TV GAzeta)

O pastor George estuprou o próprio filho, Joaquim, de 3 anos, e o enteado, Kauã, de 6, antes de atear fogo nas crianças ainda vivas. Os crimes ocorreram no dia 21 de abril, na casa onde a família morava, no Centro de Linhares, Região Norte do Espírito Santo.

As revelações sobre o caso que chocou o país e deixou uma cidade inteira de luto foram dadas pela força-tarefa da Polícia Civil, em entrevista coletiva à imprensa.

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Ele molestou as duas crianças. Isso é demonstrado tecnicamente pelo encontro (nos corpos) de uma substância denominada PSA, que é encontrada no sêmen humano. Essa substância foi achada no orifício anal das duas crianças. Essa substância não poderia estar naquele local a não ser por um fator externo

Delegado André Jaretta Ardison, da força-tarefa da PC
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A substância PSA, presente no sêmen e produzida pela próstata, foi encontrada nos corpos dos meninos, o que comprova, segundo o delegado, que houve estupro. Jaretta reforçou que a polícia traçou uma concatenação de como ocorreram os fatos que chocaram a todos os envolvidos na investigação por tamanha crueldade do crime.

O delegado André Jaretta (ao centro, de gravata azul e terno preto) ao detalhar as investigações sobre a tragédia em Linhares. (Rafael Silva)

"Ele agrediu as crianças. Foi encontrado vestígio de sangue no box do banheiro, que um exame comprovou ser de Joaquim, seu filho biológico. Com as crianças vivas, porém desacordadas, ele as levou para a cama, utilizou um combustível derivado de petróleo e ateou fogo nelas e no local, fazendo com que elas fossem mortas pelo calor do fogo. Elas foram mortas pelo fogo. O exame comprova os meninos foram mortos carbonizados. Os dois tinham fuligem na traqueia, o que indica que eles respiravam a fumaça do incêndio", detalhou o delegado André Jaretta.

O pastor George ateou fogo nas crianças com o objetivo de ocultar os crimes de estupro. "Feito isso, o investigado (pastor George) foi para o ambiente externo da casa, sem abrir o portão, ficou andando de um lado para outro, até que transeuntes vissem o cenário, parassem e, por conta própria, prestassem auxílio, abrindo o portão, mas não tendo mais condições de prestar socorro às crianças", disse o delegado.

"Não bastasse esse ato, vimos que o investigado buscou se promover, tentando mostrar uma personalidade muito inversa do que sua conduta mostrou", afirmou.

SECRETÁRIO CHAMOU PASTOR DE 'MONSTRO' E CRITICOU LEGISLAÇÃO

Secretário da Segurança Pública do ES, coronel Nylton Rodrigues, critica a legislação e avalia que o assunto deveria ser prioritário na agenda do país. (Bernardo Coutinho | GZ)

O secretário estadual de Segurança Pública, coronel Nylton Rodrigues, afirmou em entrevista à TV Gazeta que o pastor Georgeval Alves, que estuprou e matou o próprio filho, Joaquim Alves Salles, de 3 anos, e o enteado, Kauã Salles Butkovsky, 6, não ficará muito tempo preso. George foi indicado como autor do crime, que aconteceu no dia 21 de abril em Linhares

"Ele continua detido e, com certeza, será condenado. Aí vem a nossa legislação e ele não fica nem 30 anos na cadeia - porque tem a progressão da pena, abatimento da pena. É hora de o nosso legislador lá em Brasília ver isso", criticou.

O coronel informou, também, que o inquérito será encaminhado na semana que vem para a Justiça e para o Ministério Público. George foi indiciado por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro. Na soma total da pena, ele pegaria 126 anos de cadeia.

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Em um crime como esse não tem que ter progressão e abatimento de pena. Ele tem que cumprir a pena inteira! Tem que ficar na cadeia. É hora de os nossos legisladores colocarem isso como um assunto prioritário na agenda do nosso país

Nylton Rodrigues, secretário de Segurança Pública do ES
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FRIO E CALCULISTA

Nylton Rodrigues ainda informou que o pastor teve comportamento frio e calculista e que em nenhum momento ele se emocionou ao saber das conclusões do caso.

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Não estamos falando aqui de um ser humano. Estamos falando de um monstro, e um monstro não tem esse tipo de comportamento. Todos os delegados, peritos e investigadores se emocionaram com o caso. Como alguém tem a capacidade de ter um comportamento tão perverso como esse monstro teve?

Nylton Rodrigues
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