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Mortes, estupros e expulsões. O que aconteceu no condomínio Ourimar?

Mortes, estupros e expulsões. O que aconteceu no condomínio Ourimar?

Do sonho da casa própria ao pesadelo do tráfico, moradores de condomínio popular vivem sob as regras de bandidos que assumiram o controle do local desde 2016, na Serra

Publicado em 15 de julho de 2019 às 22:50

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Localizado às margens da Rodovia ES 010, a poucos metros da praia de Manguinhos, na Serra, o conjunto habitacional Ourimar surgiu em 2016, com a promessa de realizar o sonho da casa própria para cerca dos dois mil moradores que ocupariam os 608 apartamentos. 

Três anos depois, a realidade é outra. Cobiçados por bandidos, os apartamentos viraram cenários para tráfico de drogas, assassinatos e estupro. A polícia tenta reagir, com operações e prisões de criminosos, mas a maioria dos habitantes do condomínio ainda vive refém do medo.   

2016: O INÍCIO E A TOMADA DO TRÁFICO 

Ourimar é um condomínio de apartamentos populares entregue pela Caixa Econômica Federal em parceria com a Prefeitura. Em junho de 2016, vinculado ao programa “Minha Casa, Minha Vida”, o local recebeu 608 famílias de baixa renda escolhidas pela Prefeitura. Eram pessoas dependiam de aluguel social ou que tiveram as casas interditadas após as chuvas intensas de 2013.

Uma das operações realizadas pelas polícias Civil e Militar dentro de Ourimar. (Caíque Verli)

2017: EXPULSÕES E EXECUÇÕES

A alegria de quem recebeu um apartamento novinho não durou muito. O condomínio passou a ser ponto de traficantes que fizeram grande parte dos moradores do local reféns, com imposição de regras, ameaças e venda de drogas. Já em 2017, um grupo criminoso expulsou 48 famílias.

Em 3 de junho de 2017, Marcos Antônio da Silva Xavier, o Mata Rindo, uma das primeiras lideranças do tráfico de drogas no conjunto residencial, foi assassinado. Ele havia sido preso duas semanas antes, pela Polícia Militar, dentro do apartamento dele com droga. Antes dele, já havia sido morto Vander Luiz Guimarães, em 17 de maio.

Em 26 de junho do mesmo ano, a jovem Milene de Oliveira Miguel foi morta após dar um tiro no ex-namorado dentro do condomínio, segundo o a polícia. Ela tinha sido proibida de entrar no local, mas desobedeceu a ordem. Três dias depois, Eduardo Barreto Pires também foi morto em Ourimar. 

As polícias militar e civil fazem uma megaoperação no Condomínio Ourimar, na Serra. (Divulgação/PM)

POLÍCIA REAGE

Em 6 de julho de 2017, a primeira grande operação no local foi organizada pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Serra e contou com mais de 300 policiais civis e militares. Ao todo, 14 pessoas foram presas. O alvo principal dessa operação era Brian Lopes, que conseguiu escapar. Brian acabou preso no ano seguinte por policiais militares.

Brian Lopes de Oliveira. (Divulgação)

No dia 20 de outubro, a DHPP prendeu Douglas Fernandes Pinto, o Drogba, acusado de quatro mortes,  entre eles do primeiro chefe do tráfico, Mata Rindo. Em novembro do mesmo ano, foram mais 11 prisões da DHPP Serra, todas de envolvidos em mortes na região.

No entanto, ainda em outubro, mais duas pessoas ligadas a Ourimar foram executadas: Daniel de Almeida Moraes e Henrique Alves. Em 8 de novembro, foi morto Jabez Luiz da Conceição Filho, o Baiano.

Em dezembro, foram instaladas duas câmeras de videomonitoramento na entrada de Ourimar. A Prefeitura afirma que elas funcionam até hoje, porém, moradores acreditam que não.

Ainda em 2017, diante dos problemas, a Caixa Econômica Federal entrou com uma ação civil na Justiça Federal para desapropriar apartamentos com moradores em situação irregular - pessoas que não estavam pagando as prestações do contrato e ocupantes que não tinham contrato.

2018: ESTUPROS, MORTES E OPERAÇÕES

Em fevereiro de 2018, uma moradora teve o apartamento invadido e foi violentada sexualmente. Após o crime, em 20 minutos, a moradora teve que sair do imóvel carregando consigo o bebê, uma trouxa de roupa e as feridas no corpo e na mente provocadas pelo estupro que viveu.

No mesmo mês, um novo assassinato. Arthur Henrique Gonçalves Silva, 23 anos, foi executado a tiros durante um culto, que acontecia em um dos apartamentos do condomínio.

Arthur Henrique Gonçalves Silva foi assassinado a tiros dentro de apartamento no condomínio Ourimar. (Internauta | Gazeta Online )

O terror era tanto que, em 9 de março de 2018, uma ambulância foi impedida por traficantes de entrar no condomínio para prestar socorro a um morador. Os atendentes do SAMU chegaram a ser ameaçados por criminosos armados. 

PRISÕES

Ainda em março de 2018, uma nova ação da DHPP Serra levou para cadeia Elvis da Silva Riberto e Fabrício de Jesus Ferreira, 24, acusados de homicídios. No mesmo mês, a mesma delegacia prendeu, em um apartamento de luxo em Colina de Laranjeiras, Marconi de Oliveira Lopes, que havia assumido a chefe do comércio de drogas no condomínio. Ele foi o mandante da morte do rapaz durante um culto em Ourimar.

Em maio, a penitenciária recebeu Emerson de Lima Alcântara, o Buguelo. Ele é acusado de estuprar duas moradoras.  Já em junho, um adolescente e seis adultos, entre eles Katia Maria Calisto da Silva (Nega), foram parar na cadeia após uma operação com 163 policiais civis e 71 policiais militares. Os detidos eram acusados de expulsar pessoas e integrar o tráfico de drogas na região.

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MISTÉRIO E SANGUE

O ano ainda seria marcado por um mistério e outra morte violenta de mulher: o comerciante José Lucas da Silva desapareceu, em setembro, após sair do apartamento onde morava com a esposa e a filha. Desde então, nunca foi localizado. Já no dia 6 de novembro, Dayana Duarte, de 33 anos, foi morta a tiros na frente dos filhos, dentro de um dos apartamentos. 

Em dezembro, a Prefeitura da Serra retirou as cercas que ficavam ao redor do condomínio na tentativa de que as viaturas da Polícia Militar entrassem nas áreas entre os prédios.

2019: NOVAS EXPULSÕES E DESAPROPRIAÇÃO 

Em março, novos registros de expulsões foram feitas pela Polícia Civil. Três famílias foram obrigadas a deixar os apartamentos por traficantes que atuavam no condomínio.

Como reação, a polícia prendeu, no dia 26 de abril, Silvestre de Jesus Santos, acusado de aliciar crianças dentro do condomínio e também por expulsar moradores. 

O mês de julho começou com a justiça expedindo uma determinação para que 93 imóveis fossem desocupados. A determinação começou a valer no dia dia 8 de julho, sendo que em três dias, 55 imóveis foram esvaziados.  Oito caminhões de mudança e ajudantes de carga foram disponibilizados para os moradores que saírem.

Ao mesmo tempo, no dia 10, criminosos ainda desafiavam a polícia e registravam um vídeo ostentando armas.

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Na manhã desta segunda-feira (15), policiais militares fizeram uma operação para cumprir um mandado de reintegração de posse, a pedido da Justiça Federal. A previsão é de que 29 unidades sejam esvaziadas com a presença da PM nesta segunda.

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